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domingo, 27 de dezembro de 2020

A Garota Ideal

Nesse final de ano estou praticamente sem compromissos com outras pessoas, embora a lista de pendências continue grande. Tenho aproveitado para ler aqueles livros que comprei e nunca me organizava para ler. Além disso, já que assino o serviço de streaming da Amazon, também estou assistindo muitos filmes, de variados tipos. Desde os policiais até aqueles mais bobinhos, feitos para acalmar a mente (pelo menos a minha acalma rs).

Um desses que assisti chama-se a A Garota Ideal (título original: Lars and the Real Girl), um drama com o Ryan Gosling. Não vou dar spoiler, ok? Resumidamente, o personagem é um cara que tem muitas dificuldades de convívio social e que arruma uma namorada pela Internet: uma boneca. O filme se desenrola com o envolvimento de todos à sua volta na tentativa de lidar com o fato de que ele trata a "Bianca" como uma pessoa de verdade. Claro que é bonito em ver como todos na cidade se envolvem nisso para ajudar o cara, mas é um cenário bastante utópico. Se isso acontecesse por aqui, o coitado seria massacrado nos tribunais da Internet e a condição mental dele, ao invés de melhorar, só iria piorar ainda mais. 

Mas o que esse filme tem a ver comigo, além do fato de que também tenho minhas dificuldades de relacionamento com as pessoas?

No mesmo dia, mais cedo, estava mexendo em uns discos rígidos antigos e me deparei com coisas que mexeram comigo: tinha guardado histórico de mensagens no MSN com aquela que um dia chamei de "amor maior" e cuja história contei aqui. Não sei porque, mas resolvi abrir as mensagens e ler um pouco. Péssima ideia.

Ler nossas conversas e os planos para um futuro que nunca veio me deixou muito mal. Conversávamos de tudo, desde "como foi seu dia?" até conversas mais picantes. Relembrar isso tudo, de como ela era minha companhia e melhor amiga naqueles anos de convívio via internet acabou comigo na sexta. Nunca fui tão eu com ninguém quanto fui com ela e a certeza de que nunca a encontrarei me deixou triste, como se minha chance de ser feliz tivesse acabado quando ela sumiu da minha vida.

Assim como a Bianca do filme, ela parecia ideal para mim. Ótima pessoa, linda, inteligente e combinávamos até nas nossas diferenças. Por outro lado, da mesma forma que a Bianca, a guria ideal só existia na minha mente. A boneca do filme não falava e nem respirava. A minha guria era alguém que eu nunca encontraria pessoalmente, pois é esse o destino natural de uma história de catfish

Foi um misto de tristeza, porque o sentimento era real, e raiva de mim mesmo, pois prolonguei isso mais do que deveria. Assim como o Lars do filme com a boneca, eu me relacionar com alguém pela Internet só aconteceu porque tinha (e ainda tenho) muitas questões a resolver. 

Por outro lado, ter contato com essa dor na sexta me fez tomar uma atitude no dia seguinte: peguei novamente o disco externo e o formatei, apagando qualquer histórico de conversas com ela no MSN e as suas supostas fotos. 

Ainda estou longe da melhora do Lars no filme, porque ela ainda está viva na minha mente e em alguns emails arquivados no meu Gmail, mas espero ter começado um processo de desapego. Como aprendi nas minhas leituras sobre o budismo, o apego é a raiz do sofrimento e preciso encontrar a felicidade dentro de mim mesmo.





domingo, 20 de dezembro de 2020

Hipocondríacos e esperança em tempos de pandemia

 A pandemia não está fácil para ninguém, mesmo para aqueles que acham que não existe pandemia e colocam a si e os outros em risco. Para pessoas hipocondríacas como eu, esses tempos representam pensamentos diários de "será que estou com a doença?".

Eu raramente saio de casa, nem para caminhar estou saindo mais. As minhas saídas restringem-se a mercado e estou me organizando para sair cada vez menos, fazendo uma compra semanal apenas. Mas quando saio é sempre um momento de tensão, já que cada vez menos pessoas tomam os cuidados básicos. Quando vem alguém sem máscara em minha direção, eu praticamente saio da calçada para me afastar ao máximo.

No mercado, se alguém se aproxima de mim na fila do caixa, eu sempre a olho de cara feia, mesmo a pessoa estando de máscara. As máscaras protegem mas a eficácia depende de vários fatores. Logo, usar máscara ajuda mas não é suficiente: tem que manter a porra da distância! Falei o palavrão aqui porque é o que queria dizer para esses indivíduos. Mas é perda de tempo, pois os negacionistas são, antes de tudo, selvagens. Se irritar com essa gente só pode nos trazer mais riscos ainda. 

Ontem pedi umas esfihas em casa e o entregador estava de capacete e sem máscara. Na hora nem me liguei de falar algo, pois estava me desculpando por ter feito o pedido e logo depois ter começado a chover. Voltei para dentro de casa, tirei óculos e máscara, lavei bem as mãos e tomei todo cuidado manuseando os produtos. Mas hoje acordei e lembrei que não tomei banho logo depois de ter atendido o entregador. 

Aí minha cabeça fica imaginando vários cenários e cálculos. Qual a distância que mantive dele na hora da nossa interação, em quantos dias eu poderia ter sintomas, etc. O risco deve ter sido mínimo, visto que eu estava protegido e não fiquei tão perto do entregador. Coisa de 1 metro mais ou menos. Mas existiu um risco ali e fiquei me lamentando por ter sido desatento.

Agora é uma semana em que ficarei monitorando meu olfato, paladar, temperatura corporal e por aí vai. Hipocondríaco nunca tem paz, mas em tempos de pandemia é muito pior.

Como não venho aqui só para reclamar, lembro também que há esperança de vida melhor para mim depois da pandemia. Renegociei a pior dívida que tenho e fechei dois contratos de trabalho. Com isso, vejo que conseguirei quitar essa dívida maior até dezembro de 2021. Tenho outra dívida grande e essa devo quitar ao longo de 2022. Aí sobrarão dívidas "menores" que tenho mais facilidade de negociar (bancos).

Para quem não tinha esperança de quitar as dívidas antes do 50, nada mal né?

Fiquei na sexta à noite imaginando como será minha vida quando não dever a mais ninguém, quando todo o dinheiro que receber vier só para mim mesmo praticamente. Pensar nisso me deixou animado, mesmo nesse caos em que estamos todos vivendo. 

Como disse ao meu amigo Skull, parece que a vida me deu uma nova chance de fazer as coisas certas. Espero aproveitar bem dessa vez. 





segunda-feira, 23 de novembro de 2020

A contradição do medo da morte

A cada vez que me dou conta da minha idade, penso no quanto tempo eu desperdicei com coisas inúteis. Quanto tempo da minha vida eu corri atrás de pessoas ou coisas e isso corrida insana me colocou onde estou hoje. 

Sem dinheiro, com dívidas imensas e sem perspectiva de carreira. Quando era mais novo, costumava achar que idade não seria problema na minha profissão. Me enganei totalmente e hoje, por mais que tenha trabalhado tanto, meu nível de empregabilidade na minha profissão é muito baixo.

Penso nisso, também no fato que eu e as pessoas queridas estão envelhecendo, e vem à minha mente a sensação que minha vida acabou, que estou fazendo hora até o fim. Tenho menos de 45 anos, mas mesmo assim acho que daqui pra frente as dificuldades só aumentarão.

E aí, com exceção da minha família, não sei mais do que estou fazendo aqui. Tenho medo de ficar ainda mais velho e não ter onde morar, não ter dinheiro para comer e morrer em algum lugar abandonado. Tem horas que fico tentando achar formas de sair dessa, de buscar ao menos uma forma de garantir uma velhice digna. Mas isso me entristece, porque sempre achei que poderia fazer mais. 

Parece que não tenho mais nada pra lutar, pra me motivar. 

Por outro lado, quando penso que posso morrer cedo, eu fico morrendo de medo. Qualquer sintoma já é um gatilho e fico super ansioso. Hoje mesmo acordei com diarreia. E qual a primeira coisa que me vem à cabeça? Covid. Pensando logicamente, isso pode ser apenas sintoma de uns testes que fiz na cozinha ontem, já que, quando saio de casa para caminhar ou ir ao mercado, procuro manter distância segura de qualquer ser humano. Além do fato de andar de máscara sempre e tomar os cuidados básicos. Logo, a chance de eu pegar é muito pequena.

Mas avaliar racionalmente a situação não é uma característica minha. Curioso que sou de exatas. Uma vez, uma cliente me disse que não conseguia entender como alguém de exatas como eu tinha medo de voar. Pois é.

Quando começo a pensar que posso estar com algo grave, já penso na morte, na dor, que minha vida vai acabar. É uma coisa tão doida porque tenho visto cada vez menos sentido na minha vida, mas me apavora a ideia de que posso estar doente e morrer. E aí meu dia acaba, não consigo fazer nada do que tinha que fazer porque passo as horas monitorando cada sinal do meu corpo.

Por mais que a gente conte para os outros parte dos nossos pensamentos, a vida de quem tem transtornos é muito solitária. Queria ser normal como a maioria das pessoas. Viver e simplesmente não ligar ou, ao menos, lidar com as coisas na medida exata.

Gostaria de encarar um dia de cada vez e aproveitar cada momento. Talvez eu tenha tido isso em algum momento da minha vida, mas simplesmente não lembro quando e se aconteceu.

Por ora, fico remoendo esse medo de estar doente e morrer logo. Por que eu ligo tanto?






segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Sonhos

Já faz um bom tempo que não tenho tido prazer em nada e me sinto apenas tocando em frente. Há 20 anos atrás, já com dois anos cursados de faculdade, eu tinha muitos planos. Como eu cheguei até aqui assim?

Boa parte dos meus sonhos eram relativos a questões materiais. Talvez por não ter tido nada quando criança, de sempre ter passado aperto, muitos dos meus objetivos passavam pelo "ter". Hoje eu sei que isso tudo era bobagem, pois tenho certeza que um carro, conta recheada ou casa luxuosa não me deixaria feliz. Mas muitas decisões que tomei em nome do "ter" me levaram aonde estou hoje. Com dívidas monstruosas, patrimônio zero e com menos possibilidades futuras de ter bons rendimentos.

Sim, mesmo eu tendo uma profissão com bastante vaga, a idade faz diferença em processos seletivos. Hoje eu sou velho para a minha área de trabalho. E eu, que 20 anos atrás sonhava em ter a vida de luxo que não tive na infância, hoje me preocupo em saber se terei lugar para morar ou dinheiro para comer quando passar dos 60 anos. Eu diria que essa hoje é uma das minhas maiores preocupações e não sei como sair disso. Tudo que eu ganhar nos próximos anos será para pagar as dívidas que, finalmente, parecem estar encaminhadas para serem pagas em no máximo 3-4 anos. 

Mas e aí? Já estarei mais perto da casa dos 50, sem poupança, sem patrimônio e ainda com menos chance de trabalho. Isso realmente me preocupa. O sonho que no passado era vida de luxo, hoje se transformou em preocupação se terei como garantir a mim um fim de vida digno. 

Tenho tido bons resultados no que ando fazendo, embora nada disso se traduza ainda em dinheiro. Mas estou fazendo o que acho correto para aumentar minhas chances de trabalho. 

Às vezes penso que deveria parar de sonhar muito e me contentar em fazer um concurso, mesmo que num nível acadêmico menor do que o meu. Talvez eu devesse parar de ser arrogante e enxergar que essa vida de destaque não é para mim, que ter uma vida digna não passa por ter coisas caras ou por ser referência na minha área. 

A maioria das pessoas simplesmente toca em frente, como diria aquela música do Almir Sater. E são felizes assim. Não vivem no luxo, mas tem vida decente, com nome limpo e até com algum conforto. Talvez porque se aceitem como são e não fiquem buscando mais do que talvez a vida não tenha reservado a elas.

Eu sempre me neguei a ser assim. E onde isso me trouxe? 



segunda-feira, 7 de setembro de 2020

"Eu to bem"

Quando alguém me pergunta como eu estou, seja no whatsapp ou em alguma reunião virtual, eu simplesmente respondo de maneira protocolar: "eu to bem e vc?". Deveria dizer a verdade? Será que alguém estaria preparado para ouvir:

Não, eu não to nada bem. Minha vida tá uma droga e não aguento mais essa quarentena meia boca. Meia boca porque, embora eu cumpra, um bando de filho da puta fica passeando como se não estivesse morrendo mais de mil pessoas por dia por causa dessa maldita doença. 

Enquanto morre trabalhador, morre profissional de saúde, o gado filho da puta fica seguindo as palavras de um vagabundo que, ao invés de liderar um esforço nacional para combater os efeitos da doença, joga o tempo todo contra e demoramos muito mais do que outros países para ter algum controle dessa merda.

E por causa disso tudo, porque ainda é muito arriscado circular por aí, não consigo ver a minha família. Não estou com eles desde o início do ano e todo dia tenho vontade de chorar porque não posso estar com eles. Queria abraçar meus irmãos, minha mãe e não posso. Não posso porque um bando de filho da puta egoísta só pensa em si. 

Não durmo bem tem meses, estou me alimentando mal e nem para fazer exercícios to conseguindo ter regularidade. Fico me enchendo de tarefas e numa madrugada me dou conta que tenho falado mais com colegas de trabalho do que com meu irmão. Será que ele tá bem mesmo? Não lembro a última vez que ouvi a voz dele. 

Que merda só poder se comunicar com quem amamos por mensagem e por grupos. Que saudade imensa de todos eles. Tem horas q penso: foda-se, vou encarar essas horas de viagem só pra vê-los, mesmo que de longe. Mas não posso e isso me deixa mais puto, triste e com vontade de chorar.  

Eu não to bem. Durmo mal, como mal, vivo mal. Que prazer eu tive nesses últimos tempos? Zero. Os únicos momentos de alegria que tenho tido são de assuntos profissionais. Que merda de conquista. Nem posso dividir com aqueles que amo. 

Tem 19 meses que não tomo SOS. E não tenho tido nenhuma crise de ansiedade. Mas hoje eu queria um remédio para dormir que me apagasse por muitas horas e me fizesse esquecer de tudo. Não consigo ter paz. 

Era isso tudo que queria dizer. Mas não, me limito ao "eu to bem e vc?"



sexta-feira, 10 de julho de 2020

Já perdi a conta

Eu estava contando as semanas em quarentena, mas faz tempo que deixei de contar e me perdi nas semanas. Parte disso é porque passei algumas semanas ou meses extremamente ocupado. Outra possível razão é que contar quantas já foram ou quantas faltam talvez esteja me machucando mais.

Não vou negar que tive progressos, com sintomas de ansiedade cada vez menos frequentes. Já são 17 meses sem recorrer a um SOS, e tive poucas crises de lá pra cá. Os pensamentos hipocondríacos ainda existem, talvez diariamente, mas acho que muito menos do que há seis meses atrás. Isso certamente é um vitória, especialmente nesses tempos de pandemia. 

Se qualquer sintoma era motivo de me questionar se estava ou não com a covid, agora tenho tido poucos episódios desses, ou estou prestando menos atenção a qualquer sintoma físico.

Mas, e tenho certeza que isso acontece com todos (ansiosos ou não), os sentimentos estão bem variáveis. Se num dia me pegando cantando, em outros fico com aqueles sentimentos de que só estou esperando o tempo passar. Muito disso tem reflexo no fato de que fiz aniversário nesse período e aí vem a inevitável reflexão "o que fiz com a minha vida?".

Nas últimas semanas, tenho produzido bem pouco. Acho que quem me lê há tempos deve perceber que uso muito esse verbo. Porque estou sempre com algo pra fazer, o que não quer dizer que realmente eu faça. E aí eu procrastino no YouTube, vendo canais que o meu eu de tempos atrás nunca imaginaria gastar um minuto qualquer.

Quando não estou ocupando meu cérebro com trabalho ou com vídeos inúteis, fico tendo algumas reflexões. Até penso em vir aqui escrever, mas aí arrumo alguma coisa para fazer e até para escrever aqui eu fico procrastinando.

Assunto não falta. As lembranças da guria, saudade da família, dívidas que trazem muita coisa de volta, etc. Falta parar de fazer coisa inútil e produzir algo, seja nos trabalhos ou neste espaço em que sou quase 98% eu.

domingo, 26 de abril de 2020

Quarentena - semana 7

Faz 14 meses que não tomo SOS, mas a última madrugada eu teria tomado, se tivesse algum aqui. Faz tanto tempo que não tomo que os comprimidos que eu tenho perderam a validade. Nem lembrei de pedir outra receita, porque venho tentando não tomar esse tipo de remédio. Mas essa madrugada foi bem complicada...

Me senti mole esse sábado todo, com algumas dores nas pernas. Achei que não tinha a ver com exercícios, já que a última vez que fiz foi na quinta-feira. Mas me senti bem fraco nesse sábado e isso é um gatilho para a minha ansiedade. E aí, durante a madrugada de sábado para domingo, comecei a ficar mais agitado ainda, com dores nos joelhos e incômodo muscular.

Comecei a pesquisar os sintomas na Internet, como faço sempre e fiquei fazendo contas para saber se seria possível eu estar com o tal vírus. Me sentia muito quente e a moleza que estava sentindo parecia mesmo o início de sintomas dessa doença. E tentava imaginar como seria possível me infectar, pois não saio de casa tem 3 semanas e tive dois contatos rápidos com entregadores (um a 2 semanas e outro tem 4 dias) a uma distância razoável, tomando os cuidados de higiene quando entrava em casa. Ficava pensando como seria possível ser infectado, mas lógica não é uma coisa que pessoas com transtorno de ansiedade levam muito em conta nessas horas.

Então resolvi me ocupar. Fiz chá, lavei louça e abri a lista de tarefas para escrever código em Java. E assim fui até mais ou menos 6 da manhã, quando consegui dormir.

Hoje até que passei melhor e agora à noite estou bem. Onde por "estou bem", entende-se por ausência de sintomas físicos evidentes mas não livre de preocupações.

Sei que tenho que ficar em casa e ficarei, pois além do meu compromisso com a saúde de todos ainda tem o meu medo de pegar qualquer doença. Mas, quando isso tudo acabar, será complicado voltar a sair de casa.

domingo, 19 de abril de 2020

Quarentena - semana 6

Incrível como o tempo está passando rápido nessa quarentena. Nem acho que é apenas pelo de eu estar com muitas atividades, mas tudo tem passado bem rápido no que parece minha rotina nessa quarentena.

Acordo tarde, faço lanche e vou cuidar das plantas. Depois, leio os números da epidemia no site worldometers.info e tenho mais esperança em ver que diversos países da Europa parecem virar o jogo. Esperança de que isso aconteça conosco também, seguindo o fluxo natural da doença. Mas temo pelo nosso futuro, em ver tanta gente negar o óbvio e furar o isolamento. Espero que essa gente caia na real antes de virarmos uma Itália. Outros países, como a Áustria, lutaram antes e controlaram a situação antes que virasse uma tragédia como na Itália e Espanha.

Depois dessas leituras, cuido do pequeno espaço onde moro e começo a pensar no almoço. A partir daí, trabalho e tento dar vazão às várias demandas que tenho. Por estar em casa e, apesar de ter essa rotina já tem algumas semanas, sinto que me falta foco para trabalhar mais nas tarefas. Acabo rendendo mais quando está próximo dos prazos de entrega e fico procrastinando até quando não dá mais.

Durante todo dia também troco mensagens com a família e procuro ligar todo dia pra minha mãe. Estou me comunicando mais com minha família e isso ameniza a lembrança que irei demorar a vê-los. Porque mesmo que aconteça o relaxamento das medidas aqui, não me sinto tranquilo de viajar até a cidade da minha mãe e ser possivelmente um vetor da doença.

Aliás, faz 2 semanas que não saio de casa. Recebi duas entregas nessa semana que passou, mas não passei do portão. A última vez que tive um contato pessoal (de conversar) tem uma semana e mesmo assim de longe. Como será quando tudo isso acabar?

Será estranho sair na rua, falar com alguém, apertar a mão das pessoas... E estou falando de algo, na melhor das hipóteses, lá para junho ou julho. Se bem que junho soa muito otimista da minha parte.

Enfim, é torcer para esse tempo continuar passando rápido assim e poder sair dessa prisão.

domingo, 12 de abril de 2020

Quarentena - semana 5

Mais uma semana ficando em casa, dessa vez sem idas até para fazer compras. Resolvi fazer as compras usando serviços de delivery, mesmo sendo mais caro do que se eu fosse ao mercado. Mas estou evitando correr riscos, mesmo para uma saída rápida ao mercado aqui perto. Fico mais tranquilo? Nem sempre.

Cada sensação no corpo já é motivo para ficar preocupado e fazer cálculos para saber quando foi a última vez que tive algum contato com outra pessoas. Nas entregas que recebi nessa semana, procurei manter uma distância segura e tomei o cuidado de levar as mãos, rosto e narinas quando entro em casa. Mas qualquer dor eu já começo a relembrar os passos e analisar onde eu poderia ter errado e ser infectado. Enfim, outra semana convivendo com as preocupações.

Pelo menos os dias têm passado muito rápido. Tenho acordado tarde mas, quando percebo, já é noite. As atividades de plantação, arrumações e exercícios estão fazendo meus dias passar mais rápido. Amanhã fará 30 dias que comecei meu isolamento e parece que passou rápido. O que não parece que passará rápido é essa situação, infelizmente, e isso me deixa muito mal às vezes.

Saudade da família que aumenta ainda mais porque não posso estar com eles. Saudade de sair de casa, para ver o movimento das pessoas.

Não posso me queixar. Sei que sou privilegiado, pois minha vida profissional não parou nada durante essa quarentena, muito pelo contrário. Além disso, os recursos para as necessidades básicas não faltarão e isso é muito diferente de quem perdeu o trabalho e não tem como levar comida para casa. Então, por mais que seja difícil, minha situação é melhor do que de muita gente.

Mas tem horas que bate um desânimo tão grande. Desânimo em perceber que as coisas piorarão muito, especialmente uma parcela considerável de privilegiados como eu insiste em furar o isolamento, colocando a própria vida em risco e das outras pessoas.

Esses dias, quando estava lendo notícias da crise na internet, me senti tão mal ao ler um relato de um óbito de uma pessoa que, aparentemente, era contra o isolamento. Não só por imaginar que uma família ficou sem um ente querido, mas também por ver um número grande de pessoas sem compaixão alguma, debochando de uma coisa tão triste. E aí percebi que preciso limitar meu tempo de leitura de notícias, seja em sites ou redes sociais.

Se eu não fizer isso, sinto que o pouco equilíbrio que tenho há quase um ano irá embora.



domingo, 5 de abril de 2020

Quarentena - semana 4

Já estou na quarta semana de quarentena em casa, saindo muito raramente apenas para compras em mercado. Acho que, desde o dia 13/03, saí de casa umas 5 ou 6 vezes. E cada saída é seguida de vários cuidados de higiene ao voltar, como trocar a roupa, tomar banho com sabão, higienizar as compras e por aí vai. Pessoas hipocondríacas já tomam muitos cuidados, imaginem nessa fase.

Ontem estive em dois mercados e um deles tinha mais gente do que eu acharia normal. Procurei manter uma distância segura, mas fica sempre a preocupação de ser infectado. Para evitar mais preocupação do que eu "normalmente" tenho, vou evitar sair de casa nas próximas semanas. Aqui tem um quintal, que tenho varrido quase todo dia, e isso é uma forma de contato com o mundo além do meu quarto.

Mas qualquer dorzinha ou nariz um pouco obstruído já é motivo para eu pensar que posso estar infectado. E aí vira um gatilho, que dispara diversas sensações no meu corpo. Fico agitado, sentindo mil sensações e ficando ainda mais preocupado do que já sou. Para ter risco zero de infecção, evitarei sair de casa nas próximas semanas.

Estou lidando com essa espécie de prisão de algumas formas. Tenho reservado uns minutos todo dia para pegar sol no quintal, já que aqui dentro não bate sol. Além disso, estou cuidando das minhas plantas e até plantando coisas novas. Tem sido uma experiência muito boa, especialmente quando vejo as plantas se desenvolverem.

Faço exercícios em casa todo dia, alternando cardio e exercícios de musculação. Percebi que dá para fazer muita coisa em casa, mesmo tendo pouca coisa. Tenho um halter, com uns 10 kg de peso, o que estou usando para exercícios isolados. Também tenho feito exercícios usando o peso do corpo (já estava lendo sobre isso antes da quarentena) e a experiência é interessante.

E tem o trabalho/estudo. Isso na verdade nunca faltou e estou envolvido com diversas iniciativas. Então ocupação para mente é o que não falta, embora às vezes eu tenha dificuldade de me concentrar e focar nas diversas demandas que tenho.

Com tudo isso que tenho feito não posso afirmar que meus dias estão passando devagar. Na verdade, estão passando até rápido. Mas, toda vez que penso que essa situação ainda vai se arrastar por mais uns meses, bate um certo desespero, porque não posso sair de onde estou e ficar com minha família. E a saudade tem batido bem forte ultimamente.





segunda-feira, 30 de março de 2020

Hipocondríaco na quarentena

Para quem se imaginou com diversas doenças ao longo dos últimos doze meses, imaginem como tem sido meus dias nessa época de coronavírus.

Passei 2019 inteiro com medo, ficando atento a cada sensação corporal e passando por diversas especialidades médicas ao longo desse ano. 2020 não começou de forma diferente, comigo buscando dessa vez exames com um urologista. Apesar de dores e de estar urinando muito, nada foi encontrado nos exames.

E aí chega o COVID-19 no Brasil, logo no final do carnaval, e com isso vai embora a esperança de dias mais tranquilos. Entrei em quarentena desde o dia 13 de março e são dias bem complicados. Como tenho muitas coisas para fazer que posso fazer via internet, então profissionalmente essa parada não está sendo ruim.

Evitei sair nesses dias. Acho que saí no máximo 5 vezes de casa desde então, indo a comércio aqui perto comprar coisas para fazer comida em casa. E, nas vezes que saí, tomei todos os cuidados de higiene para evitar contato com secreções de outros. Logo, racionalmente falando, tenho uma possibilidade muito pequena de pegar essa doença. Mas quem disse que hipocondríaco dá muito atenção à razão?

Cada espirro, cada tosse ou mesmo um nariz entupido já é motivo para achar que estou com algo. São sintomas que acontecem normalmente comigo, em todos os meses do ano. Mas quem disse que hipocondríaco dá muito atenção à razão?

Como tenho tentado me cuidar?

Bem, tenho feito exercícios em casa, praticamente todo dia. Procuro manter uma rotina, mas sem exigir muito do meu corpo, apenas para manter algum condicionamento e não ficar o tempo todo na cama.

Também tenho me divertido cuidando das minhas plantas. Tenho 3 aqui e recentemente uma lentilha que joguei num vaso brotou e isso me fez bem. Todo dia tenho cuidado das plantas e elas parecem melhor do que estava antes, quando eu molhava uma vez por semana.

Tenho sentido muita falta da minha mãe, mesmo ligando pra ela todo dia. Esses dias fiz chamada de vídeo com ela, para que ela não se sentisse muito só, mas eu fiquei muito mal, saudade apertando muito.

Dizem que o mundo será outro quando essa pandemia passar. As pessoas se transformarão e as relações também. Comigo também não será diferente. Tenho sentido tanta falta de estar com pessoas e com a natureza que percebo que algo tem que mudar em mim. E está mudando.

Vamos em frente






sábado, 14 de março de 2020

Ser hipocondríaco em tempos de coronavirus

Hipocondríaco nunca não tem paz.

Esse ano já comecei preocupado com possíveis problemas no aparelho urinário e fiz diversos exames. Felizmente não deu nada. Me sinto idiota a cada vez que procuro um especialista diferente, com determinada queixa, e após exames nada é achado. Sim, é de se comemorar. Mas me sinto idiota por ter aqueles pensamentos de morte, aquelas promessas que de que farei tudo diferente se não der em nada, etc.

Bem, pelo menos isso passou. Aí, achei que depois disso eu teria uns meses de paz. Mas veio o coronavírus.

Acho que só quem é hipocondríaco para entender como é difícil lidar com tudo em momentos como esse. Aliás, eu não lembro de ter visto momentos como esse. Então, o meu nível de preocupação está elevado a 10.

E o que é mais curioso é que estou cercado de cientistas da área da saúde. Ou seja, teoricamente essas notícias não deveriam me afetar tanto, a não ser a atenção a precauções básicas. Mas quem disse que tem lógica na cabeça de um hipocondríaco?

Já perdi as contas sobre quantas vezes li nos últimos dias sobre os sintomas. Mesmo sendo de um grupo de menor risco (tenho hipertensão mas ela está controlada há anos), não deixo de ficar extremamente preocupado.

Uma garganta com incômodo já é um gatilho. Mesmo o lado racional dizendo que não é incomum eu ter essas coisas, especialmente porque durmo com ventilador em cima de mim, tomo gelado, etc.

Tenho dor nas costas e fico achando que é pulmão. Mesmo o lado racional dizendo que é provavelmente pela postura ao deitar e/ou pelos exercícios físicos que tenho feito em casa.

Mas quem disse que hipocondríaco dá muita atenção ao lado racional?

E imaginem a minha sensação quando alguém aperta minha mão ou tosse e espirra perto de mim?

Felizmente, alguns compromissos foram cancelados e não tenho nenhuma obrigação de sair de casa nos próximos dias, a não ser para comprar mantimentos. Aliás, acho que esse vai ser o único motivo que me fará ver gente nas próximas semanas.

E espero que essa fase de coronavírus passe logo. Quero ter paz.