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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Quase um ano sem ver a família

No início de fevereiro completarei dois marcos importantes, um motivo de comemoração enquanto outro motivo de muita tristeza. No próximo dia 11 serão dois anos sem recorrer ao alprazolam ou rivotril. Desde que comecei a ter crises de ansiedade, há 11 anos atrás, nunca fiquei tanto tempo sem recorrer a esse tipo de remédio. Motivo de comemoração, sem dúvida.

Por outro lado, mais ou menos na mesma data, será um ano que não vejo a minha família. Para estar com eles, teria que me deslocar muitas horas dentro de um ônibus, o que é muito arriscado na pandemia, especialmente porque as pessoas não seguem uma recomendação tão simples, como o uso de máscaras.

Tem as chamadas em vídeo, claro. Mas nada substitui o abraço, o beijo. E quando vejo que minha vez de ser vacinado vai demorar muito, sei lá se antes de agosto, me bate um desespero tão grande. Eu alimentava a esperança que começaríamos a ter um fluxo bom de vacinação nesse início de ano, mas é algo que vai demorar muito, graças aqueles que colocam seus interesses acima do coletivo. 

Saber que vou demorar muito mais a vê-los me deixa tão mal, mas tão mal, que tem horas que me questiono se não valeria a pena arriscar. Cada hora que penso que pode acontecer algo comigo ou com eles, eu fico desesperado e penso em ir logo, mesmo com todo o risco que isso significa. E aí eu me acho idiota, porque por um dia lá no início eu poderia ter ido mas fiquei com medo de ser contaminado. Aí as viagens entre nossos estados foram suspensas e quando voltou, em maio, o risco era muito maior.

Eu to tão mal, mas tão mal, que acho que só estando com a minha família eu teria condições de suportar essa fase. Tento manter um alto astral quando estou nos compromissos profissionais mas, fora deles, quando me encontro apenas comigo mesmo, só o que tem é tristeza e angústia. Aí choro de saudade, meu stress se manifesta em dores por todo o corpo e tudo fica pior. 

Uma coisa alimenta a outra, pois a dor ativa minha atenção plena para aquela sensação e voltam os pensamentos de que posso estar muito doente, que posso morrer e nunca mais estarei com eles. Esses pensamentos me dominam, não consigo fazer mais nada do que tenho para fazer e tudo fica atrasado. Os cuidados com a casa, comigo, com minhas tarefas profissionais e acadêmicas...

E fico nesse ciclo por dias, cada vez pior. Tristeza, mau humor, irritação com qualquer notícia que leio e meus dias ficam uma merda, como estão há muitas semanas.

Sabe o que é pior? A falta de perspectiva de melhora. Estou sem esperança. Vou cumprir os dois anos sem tomar o SOS, mas tem horas que só queria dormir e só acordar quando tudo isso passar. Ou pelo menos ter algumas horas de paz comigo mesmo.



domingo, 3 de janeiro de 2021

Gatilhos para ansiedade em tempos de pandemia

 

Já falei em diversas postagens das dificuldades que pessoas hipocondríacas têm nessa pandemia da COVID-19. Embora nem todo ansioso seja hipocondríaco também, não sei se essa associação é tão rara, pois normalmente a ansiedade anda junta de outros transtornos. O fato é que a mistura ansiedade + hipocondria +  pandemia torna os dias de gente como eu um inferno, já que são tantos tipos de gatilhos que é difícil ter um dia de paz. Não vou entrar no mérito técnico do que é gatilho e para isso deixo um link de um vídeo no final, que achei num canal no YouTube bastante interessante. 

Estava refletindo ontem e hoje sobre que tipo de informação ando consumindo nessa pandemia e como isso pode estar relacionado a esses dias mais complicados do que o "normal". Foi notícia esses dias de um perfil no Twitter que anda denunciando festas realizadas durante o final do ano e nesses primeiros dias de 2021. Cada notícia de gente que não tá nem aí, enquanto estou longe da minha família há 11 meses, me deixa muito revoltado e triste. Revoltado porque desse jeito a normalidade vai demorar muito mais aqui do que em outros países. E triste porque fico sem esperança no nosso país, por mais que eu trabalhe todo dia para fazer algo que seja importante para melhorar a vida das pessoas. Sinto que eu e muitos outros estamos enxugando gelo e talvez fosse melhor apertar o foda-se.

Essas reflexões e ter contato com tanta demonstração de irresponsabilidade me deixou muito mal ontem. Não cheguei a ter uma crise de ansiedade, mas bateu um desânimo tão grande que não queria fazer mais nada e só dormir, para ver se acordaria num contexto melhor ou se pelo menos teria paz nos sonhos.

Um parênteses aqui: para separar que tipo de conteúdo leio, eu tenho três contas no Twitter.  Na minha "oficial" eu sigo e posto coisas relativas à minha área de atuação atual. Em outra eu apenas assino perfis de notícias, já que uso essa conta como um jornal mesmo. E na terceira eu sigo esse perfil de denúncia de aglomerações que comentei e onde interajo um pouco mais falando aquilo que dá na telha sem me preocupar em parecer "legal" ou educado. Não vou me estender aqui sobre essas contas, porque acho que dá outra postagem no blog, mas sei que parece loucura.

Na minha conta principal (a que eu assino como eu mesmo) acabo tendo bastante acesso a informações mais técnicas sobre a pandemia, assim como relatos de profissionais que estão na linha de frente. Embora seja um conteúdo um pouco diferente do perfil das #covidfest, não deixo de me sentir mal às vezes. Porque sempre aparecem relatos bem tristes mesmo, da situação das unidades de saúde e algumas vezes de pacientes. Nem sempre são relatos de pessoas que eu sigo, mas basta alguém que sigo curtir ou compartilhar e a postagem aparece na minha timeline.

Algumas dessas postagens também despertam em mim sentimentos como aqueles que falei antes, mas também me levam a imaginar o que aconteceria comigo se me infectasse. Aliás, a cada vez que alguma sensação física dispara o meu lado hipocondríaco, o lado ansioso começa a ficar nervoso e daí vem os sintomas típicos de alguém ansioso. O mesmo se dá quando leio respostas de pessoas sobre alguma postagem dizendo que pegaram a doença mesmo tomando cuidados. O mesmo acontece às vezes quando leio jornal.

E o que devo fazer? Parar de me informar? Juro que pensei em desinstalar o app do Twitter do celular e dar um jeito de bloquear meu próprio acesso ao Twitter no meu computador. Talvez eu devesse não procurar saber o que acontece no mundo lá fora e focar na minha lista interminável de atividades. Noto que às vezes eu gasto tempo excessivo lendo postagens sobre a pandemia além de notícias de jornal sobre o assunto, deixando de lado obrigações que eu tenho que fazer. O duro de não ter chefe e estar com horário normal de trabalho é que acabo relaxando e perdendo tempo com outras coisas.

Tenho acessado menos o worldometers.info, site que contém dados dos casos de covid no mundo. Eu acessava mais de uma vez por dia e tinha mais ou menos de cabeça o estado da pandemia nos países com mais casos (sou fanático por dados). Mas aí vem o pensamento: "o que vai mudar na minha vida em saber que tal país está com crescimento dos dados?". De fato, embora o que eu faço tenha alguma relação com esses dados, não é uma relação direta e nas minhas atividades não vai influenciar em nada.

Talvez a mesma lógica pudesse ser aplicada a outros conteúdos. Tem horas que penso em apagar todas as minhas redes sociais, já que claramente tenho dificuldades de lidar com essas informações negativas. Mas será que é a melhor forma? Às vezes acho que talvez eu estivesse mais saudável se morasse no campo, com pouco acesso a TV e Internet. Será que conseguiria num mundo tão conectado? Não sei.

Esse final de ano me mostrou que talvez seja melhor saber o mínimo possível do que acontece no mundo e focar naquilo que preciso. Nem falo dos lixos que têm na Internet, mas de notícias mesmo. O mundo anda tão tóxico que é natural que as notícias não sejam as mais suaves para digerir. E isso ativa diversos gatilhos em mim me deixando sempre preocupado. Será a ignorância uma bênção?


  • Vídeo sobre gatilhos