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sexta-feira, 6 de maio de 2022

Não somos uma ilha

Sempre fui meio sozinho na vida, seja na escola, faculdade ou trabalho. Mesmo que participasse de  alguma roda, o fato é que nunca me senti parte de nada. Não tenho explicações dos motivos, só sei que sou assim. Lembro uma vez que um colega da escola falou sobre mim: "você é muito fechado". Falo da visão de alguém sobre uma criança de uns 12-13 anos.

Ando mais isolado de contatos com outros seres humanos e nem é por causa da covid. Agora que a circulação parece mais "normal", tive uma lesão no joelho que me impede de movimentar sem ajuda das muletas. Como estou morando em local com escada, tem 30 dias que eu não saio de casa e serão mais uns 25 nessa rotina.

Mas essa restrição temporária tem lá seus benefícios. Tenho refletido muito, pensando na vida e lidando com as minha dores. Embora esteja na casa da família, esse tempo praticamente preso no quarto tem me mostrado como sou uma pessoa solitária. Por mais que isso me deixe triste às vezes, estou aceitando que a minha vida é assim.

Existem coisas que acontecem que não posso desabafar com ninguém. Eu acabo sabendo dos problemas de todos à minha volta, mas tenho que guardar comigo para manter um pouco de paz. Acabo sendo o repositório de assuntos que não são meus, como se eu não tivesse os meus próprios. Não falo de uma perna quebrada ou dívidas para pagar, mas desse vazio que é a minha verdadeira companhia plena. 

O isolamento forçado poderia ser uma forma de buscar uma cura ou ao menos um alívio para tudo isso, mas eu não consigo ficar alheio ao que acontece aqueles que amo ou ao mundo. Não me pedem ajuda, mas eu preciso me meter para fazer algo toda vez que vejo uma coisa muito errada. Talvez assuma carga excessiva nas questões alheias, mas como ficar inerte se eu sei o que fazer para resolver a situação?

O resultado é que estou bem esgotado e ainda tenho um doutorado pra terminar, além de ter que definir muito em breve a minha vida profissional pelos próximos anos. Os próximos meses não parecem ser mais tranquilos, muito pelo contrário. Além de tudo estamos em um ano eleitoral e o sentimento que isso não vai acabar bem. Como ignorar isso?

Ainda assim é um ano de muitas vitórias pra mim. Mas por que estou desejando tanto descansar de tudo ?

Tenho pensado cada vez mais em tirar uns tempos para não fazer absolutamente nada. Na verdade, queria ver o mundo. Tem gente que chama isso de ano sabático, mas é um luxo que meus erros passados não me permitem. 

De qualquer forma, preciso mesmo de descanso para avaliar o que realmente importa. Tenho corrido  e lutado tanto por motivos que nem sei explicar direito. No início do vídeo abaixo, o Mike Posner faz uma reflexão bem legal sobre vida e morte. Tenho pensado muito sobre tudo isso.