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domingo, 27 de dezembro de 2020

A Garota Ideal

Nesse final de ano estou praticamente sem compromissos com outras pessoas, embora a lista de pendências continue grande. Tenho aproveitado para ler aqueles livros que comprei e nunca me organizava para ler. Além disso, já que assino o serviço de streaming da Amazon, também estou assistindo muitos filmes, de variados tipos. Desde os policiais até aqueles mais bobinhos, feitos para acalmar a mente (pelo menos a minha acalma rs).

Um desses que assisti chama-se a A Garota Ideal (título original: Lars and the Real Girl), um drama com o Ryan Gosling. Não vou dar spoiler, ok? Resumidamente, o personagem é um cara que tem muitas dificuldades de convívio social e que arruma uma namorada pela Internet: uma boneca. O filme se desenrola com o envolvimento de todos à sua volta na tentativa de lidar com o fato de que ele trata a "Bianca" como uma pessoa de verdade. Claro que é bonito em ver como todos na cidade se envolvem nisso para ajudar o cara, mas é um cenário bastante utópico. Se isso acontecesse por aqui, o coitado seria massacrado nos tribunais da Internet e a condição mental dele, ao invés de melhorar, só iria piorar ainda mais. 

Mas o que esse filme tem a ver comigo, além do fato de que também tenho minhas dificuldades de relacionamento com as pessoas?

No mesmo dia, mais cedo, estava mexendo em uns discos rígidos antigos e me deparei com coisas que mexeram comigo: tinha guardado histórico de mensagens no MSN com aquela que um dia chamei de "amor maior" e cuja história contei aqui. Não sei porque, mas resolvi abrir as mensagens e ler um pouco. Péssima ideia.

Ler nossas conversas e os planos para um futuro que nunca veio me deixou muito mal. Conversávamos de tudo, desde "como foi seu dia?" até conversas mais picantes. Relembrar isso tudo, de como ela era minha companhia e melhor amiga naqueles anos de convívio via internet acabou comigo na sexta. Nunca fui tão eu com ninguém quanto fui com ela e a certeza de que nunca a encontrarei me deixou triste, como se minha chance de ser feliz tivesse acabado quando ela sumiu da minha vida.

Assim como a Bianca do filme, ela parecia ideal para mim. Ótima pessoa, linda, inteligente e combinávamos até nas nossas diferenças. Por outro lado, da mesma forma que a Bianca, a guria ideal só existia na minha mente. A boneca do filme não falava e nem respirava. A minha guria era alguém que eu nunca encontraria pessoalmente, pois é esse o destino natural de uma história de catfish

Foi um misto de tristeza, porque o sentimento era real, e raiva de mim mesmo, pois prolonguei isso mais do que deveria. Assim como o Lars do filme com a boneca, eu me relacionar com alguém pela Internet só aconteceu porque tinha (e ainda tenho) muitas questões a resolver. 

Por outro lado, ter contato com essa dor na sexta me fez tomar uma atitude no dia seguinte: peguei novamente o disco externo e o formatei, apagando qualquer histórico de conversas com ela no MSN e as suas supostas fotos. 

Ainda estou longe da melhora do Lars no filme, porque ela ainda está viva na minha mente e em alguns emails arquivados no meu Gmail, mas espero ter começado um processo de desapego. Como aprendi nas minhas leituras sobre o budismo, o apego é a raiz do sofrimento e preciso encontrar a felicidade dentro de mim mesmo.





domingo, 20 de dezembro de 2020

Hipocondríacos e esperança em tempos de pandemia

 A pandemia não está fácil para ninguém, mesmo para aqueles que acham que não existe pandemia e colocam a si e os outros em risco. Para pessoas hipocondríacas como eu, esses tempos representam pensamentos diários de "será que estou com a doença?".

Eu raramente saio de casa, nem para caminhar estou saindo mais. As minhas saídas restringem-se a mercado e estou me organizando para sair cada vez menos, fazendo uma compra semanal apenas. Mas quando saio é sempre um momento de tensão, já que cada vez menos pessoas tomam os cuidados básicos. Quando vem alguém sem máscara em minha direção, eu praticamente saio da calçada para me afastar ao máximo.

No mercado, se alguém se aproxima de mim na fila do caixa, eu sempre a olho de cara feia, mesmo a pessoa estando de máscara. As máscaras protegem mas a eficácia depende de vários fatores. Logo, usar máscara ajuda mas não é suficiente: tem que manter a porra da distância! Falei o palavrão aqui porque é o que queria dizer para esses indivíduos. Mas é perda de tempo, pois os negacionistas são, antes de tudo, selvagens. Se irritar com essa gente só pode nos trazer mais riscos ainda. 

Ontem pedi umas esfihas em casa e o entregador estava de capacete e sem máscara. Na hora nem me liguei de falar algo, pois estava me desculpando por ter feito o pedido e logo depois ter começado a chover. Voltei para dentro de casa, tirei óculos e máscara, lavei bem as mãos e tomei todo cuidado manuseando os produtos. Mas hoje acordei e lembrei que não tomei banho logo depois de ter atendido o entregador. 

Aí minha cabeça fica imaginando vários cenários e cálculos. Qual a distância que mantive dele na hora da nossa interação, em quantos dias eu poderia ter sintomas, etc. O risco deve ter sido mínimo, visto que eu estava protegido e não fiquei tão perto do entregador. Coisa de 1 metro mais ou menos. Mas existiu um risco ali e fiquei me lamentando por ter sido desatento.

Agora é uma semana em que ficarei monitorando meu olfato, paladar, temperatura corporal e por aí vai. Hipocondríaco nunca tem paz, mas em tempos de pandemia é muito pior.

Como não venho aqui só para reclamar, lembro também que há esperança de vida melhor para mim depois da pandemia. Renegociei a pior dívida que tenho e fechei dois contratos de trabalho. Com isso, vejo que conseguirei quitar essa dívida maior até dezembro de 2021. Tenho outra dívida grande e essa devo quitar ao longo de 2022. Aí sobrarão dívidas "menores" que tenho mais facilidade de negociar (bancos).

Para quem não tinha esperança de quitar as dívidas antes do 50, nada mal né?

Fiquei na sexta à noite imaginando como será minha vida quando não dever a mais ninguém, quando todo o dinheiro que receber vier só para mim mesmo praticamente. Pensar nisso me deixou animado, mesmo nesse caos em que estamos todos vivendo. 

Como disse ao meu amigo Skull, parece que a vida me deu uma nova chance de fazer as coisas certas. Espero aproveitar bem dessa vez.