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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

A contradição do medo da morte

A cada vez que me dou conta da minha idade, penso no quanto tempo eu desperdicei com coisas inúteis. Quanto tempo da minha vida eu corri atrás de pessoas ou coisas e isso corrida insana me colocou onde estou hoje. 

Sem dinheiro, com dívidas imensas e sem perspectiva de carreira. Quando era mais novo, costumava achar que idade não seria problema na minha profissão. Me enganei totalmente e hoje, por mais que tenha trabalhado tanto, meu nível de empregabilidade na minha profissão é muito baixo.

Penso nisso, também no fato que eu e as pessoas queridas estão envelhecendo, e vem à minha mente a sensação que minha vida acabou, que estou fazendo hora até o fim. Tenho menos de 45 anos, mas mesmo assim acho que daqui pra frente as dificuldades só aumentarão.

E aí, com exceção da minha família, não sei mais do que estou fazendo aqui. Tenho medo de ficar ainda mais velho e não ter onde morar, não ter dinheiro para comer e morrer em algum lugar abandonado. Tem horas que fico tentando achar formas de sair dessa, de buscar ao menos uma forma de garantir uma velhice digna. Mas isso me entristece, porque sempre achei que poderia fazer mais. 

Parece que não tenho mais nada pra lutar, pra me motivar. 

Por outro lado, quando penso que posso morrer cedo, eu fico morrendo de medo. Qualquer sintoma já é um gatilho e fico super ansioso. Hoje mesmo acordei com diarreia. E qual a primeira coisa que me vem à cabeça? Covid. Pensando logicamente, isso pode ser apenas sintoma de uns testes que fiz na cozinha ontem, já que, quando saio de casa para caminhar ou ir ao mercado, procuro manter distância segura de qualquer ser humano. Além do fato de andar de máscara sempre e tomar os cuidados básicos. Logo, a chance de eu pegar é muito pequena.

Mas avaliar racionalmente a situação não é uma característica minha. Curioso que sou de exatas. Uma vez, uma cliente me disse que não conseguia entender como alguém de exatas como eu tinha medo de voar. Pois é.

Quando começo a pensar que posso estar com algo grave, já penso na morte, na dor, que minha vida vai acabar. É uma coisa tão doida porque tenho visto cada vez menos sentido na minha vida, mas me apavora a ideia de que posso estar doente e morrer. E aí meu dia acaba, não consigo fazer nada do que tinha que fazer porque passo as horas monitorando cada sinal do meu corpo.

Por mais que a gente conte para os outros parte dos nossos pensamentos, a vida de quem tem transtornos é muito solitária. Queria ser normal como a maioria das pessoas. Viver e simplesmente não ligar ou, ao menos, lidar com as coisas na medida exata.

Gostaria de encarar um dia de cada vez e aproveitar cada momento. Talvez eu tenha tido isso em algum momento da minha vida, mas simplesmente não lembro quando e se aconteceu.

Por ora, fico remoendo esse medo de estar doente e morrer logo. Por que eu ligo tanto?