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segunda-feira, 19 de abril de 2021

Tocando o barco

Eu queria abrir esse blog e postar coisas alegres, quem sabe pequenas vitórias. Mas, se eu achava que estava mal ano passado, estou a cada dia pior. Tenho me apegado à esperança de que essa pandemia vai passar e que as sessões de terapia vão aliviar a minha dor. E até lá?

Até lá eu vou fazendo o que faço todo dia: passo o tempo. Não estou 100% parado nas minhas atividades, e sinto até que algumas coisas estão finalmente andando. Mas a sensação que tenho é que só estou tocando o barco, na espera do dia em que sairei dessa prisão.

Minha rotina durante a semana tem sido: acordo, tomo café, enrolo o máximo que posso e aí vou para as minhas atividades. Devo estar produzindo de duas a quatro horas por dia. É o máximo que tenho conseguido, porque o resto do tempo estou enrolando com alguma coisa para ver se os pensamentos obsessivos sobre doenças me deixam em paz.

Aí enrolo o tempo com nada que preste: canais inúteis no YouTube, jogo de cartas online, leitura de postagens em rede social e por aí vai. Assim passo de segunda a sexta, enquanto que no fim de semana enrolo com as mesmas coisas ou assisto algo no Amazon Prime (melhor investimento em entretenimento que fiz). 

Essa tem sido minha rotina a mais ou menos quatro meses. Às vezes saio pra caminhar ou pego um pouco de peso em casa. Quando faço essas coisas até me sinto bem, pelo menos naquele curto tempo em que estou cuidando do corpo. Mas nem sempre estou com ânimo para fazer isso, visto que a obsessão por doenças geralmente acaba com meu dia.

Estou com problemas gastrointestinais tem uns 5 meses já. Médico diz que é a tal da síndrome do intestino irritável, da qual virei especialista formado via Google. Seja lá o nome do que tenho, o fato é que estou com a alimentação super restrita e comendo sem prazer. Em 3 meses devo ter perdido 12 quilos e nem estava tão acima do peso assim. A cada diarreia meu dia fica destruído. 

Longe das pessoas que amo tem um ano e sendo atormentado diariamente por pensamentos sobre doenças, que prazer eu tenho na minha vida?

Talvez os canais inúteis do YouTube não sejam tão inúteis assim: me fazem esquecer da minha realidade por uns momentos. Tem horas que desejo dormir até isso tudo acabar. Sei que preciso continuar me cuidando, que isso ainda vai demorar, mas vai passar. Só que estou tão cansado de tudo... Deus me dê forças para aguentar mais e poder estar com minha família logo.



terça-feira, 6 de abril de 2021

O que eu mais queria hoje

Estava na terapia hoje e, no final, contei a psicóloga qual foi a minha principal razão em procurar fazer terapia de novo: em meio a tantos pensamentos de doenças e morte, não consigo ter um dia de paz. Acho que desde que me encontrei com a ansiedade, sempre convivi com pensamentos hipocondríacos sendo disparados a cada sensação no corpo. Nos últimos meses, no entanto, não há um dia sequer que eu não fique pensando que tal sintoma pode ser algo grave e vou morrer. Isso é vida?

Curioso como nossos desejos mudam ao longo do tempo, geralmente disparados por aquilo que você entende que é mais importante, ou melhor, por aquilo que mais te causa dor no momento. Quando era criança, as muitas privações me fizeram desejar ser alguém bem sucedido, materialmente falando. E movi todas as minhas ações nos primeiros 30 anos da minha vida para ser essa pessoa. Tive momentos de abundância, claro, mas a corrida pelo dinheiro não me trouxe praticamente nada de bom. Muito pelo contrário, deixei de ter experiências e afundei relacionamentos, principalmente comigo mesmo.

A partir dos 30, já com a ansiedade tomando conta da minha vida, meu desejo foi me curar disso. Mas o eu dos primeiros trinta anos não estava tão no passado assim, pois me vi muitas vezes tomando ações apenas por dinheiro. Então, de um lado tinha uma pessoa querendo ter aquilo que deixou pra lá nos primeiros 30 anos, enquanto do outro lado tinha a pessoa que queria ter muito dinheiro e coisas para preencher o vazio que tenho por dentro.

Claro que não consegui nem uma coisa e nem outra. Algumas experiências boas, é verdade, mas mais momentos esporádicos do que algo realmente transformador para o resto da minha vida.

Na casa dos 40, continuei a patinar entre essas duas pessoas, mas tendendo a querer mais experiências e menos ligado a desejos materiais. 

Com tudo o que estou passando na pandemia e em especial nos últimos meses, chego a dar risada dos desejos que eu tinha. Simplesmente, não tenho a menor vontade de ter carros, casas grandes, etc. Nem tenho mais vontade de ser aquela pessoa de destaque que imaginava que eu seria. Por outro lado, essas coisas parecem ser mais alcançáveis do que eu mais quero hoje.

Paz.