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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Parábolas de ansiedade

Criei esse blog para tentar colocar no "papel" as minhas reflexões sobre o meu estado. Nem sempre escrevo em um momento de crise. O que acontece muito, é que o caso desse post, é uma escrita pós-crise, em que tento organizar as várias ideias.

Olhando tudo o que aconteceu comigo desde a primeira crise de ansiedade, há quase 10 anos, vejo tudo são fases. Como se fossem uma série de parábolas (sou de exatas, então tendo a quantificar as coisas), onde a fase das crises começa devagar, dando sinais de que as coisas podem piorar, e então atinge seu pico, que são aqueles momentos que você acha que vai enlouquecer. Depois tudo entra em um estado de "normalidade". Até que o ciclo recomeça.

Contextualizando, há cerca de 11 anos atrás, trabalhava em uma empresa onde tinha bastante pressão e vivia planejando (e adiando) a minha saída dessa empresa. Em 2008, se bem me lembro, comecei a me sentir mal, ficando nervoso e agitado. Como sou de uma família de hipertensos julgava que isso era decorrente de pressão alta. Então, comecei nessa época a procurar médicos, que mediam a minha pressão, viam que estava mesmo alta, e me receitavam remédios.

Mas as coisas não melhoraram, fui tendo mais momentos "agitados" e relacionava isso a alguma doença física. Voltava a médicos, fazia novos exames e continuava tomando remédios. Tinha também, nessa época, engordado muito. Com aumento de peso e alimentação sem cuidados, naturalmente meus exames não vinham legais.

Embora tinha começado a minha maratona de médicos, as coisas não melhoravam. Tive algumas crises nervosas em diversos momentos. Mas julgava que tudo isso eram problemas físicos. Até que, no final de 2009, tive aquele que considero o dia mais difícil da minha vida. Um super ataque de pânico em que achei que estava infartando. Minha pressão estava altíssima e naquele dia achei mesmo que ia morrer.

Depois disso, consultas e mais consultas depois, vários exames, remédios e mais remédios, outras crises, alguém disse que isso era ansiedade. Acredito que esse foi o pico dessa primeira parábola de ansiedade da minha vida. Depois daí, em 2010 - 2011, continuei tendo crises mas isso foi diminuindo aos poucos até que poderia me considerar quase "normal".

De lá para cá, houveram outros ciclos desses, talvez com duração menor, mas aconteceram. Acho que meus próprios posts nesse blog ilustram isso.

De 2016 até meados de 18, embora tivesse alguns momentos ansiosos (que nem chamo de crise), posso dizer que foram bons anos da minha vida. Houveram outras parábolas, claro, mas com amplitude e duração bem menor do que a primeira. De julho de 2018 até mais ou menos novembro, comecei a ter sinais parecidos com aqueles de 2008-09. Momentos nervosos, pensamentos de doença e morte quase que diários, etc. Pelo menos, nessa fase mais recente, eu já sabia do que sofro e usava o que tinha de recursos para lidar melhor: meditação, oração, exercícios, respeito aos meus limites, etc. Mesmo assim, as coisas não passaram.

De dezembro/18 para cá, venho tendo crises toda semana, lembrando muito a primeira parábola. Além da ansiedade, problemas para dormir, vontade de chorar (e choro) quase sempre, medo de morrer, quadro hipocondríaco, desgosto com o passado e algumas vezes com o presente, etc. Por mais que essas últimas semanas têm sido insuportáveis, não posso afirmar que sejam do mesmo nível das outras parábolas. Acho que isso se deve a um cuidado que venho tendo faz um tempo. Tenho procurado ter interações sociais, por mais que isso seja um desafio para mim, venho fazendo alguns exercícios e andando com algumas coisas que achei que nunca andariam. Por exemplo, aprendi a andar de bicicleta. Coisa que achei que nunca iria fazer.

Mas, embora eu esteja fazendo tudo o que considero certo para lidar e suportar as crises de ansiedade, essa lógica bonita não funciona no momento da crise. Somado a isso, ainda não sei a causa, mas tenho tido crises de sinusite. O que acontece comigo: cabeça dói, sinto dor em volta do nariz, ouvido direito dói e nariz fica bem entupido às vezes, mas sem coriza, cabeça pesada, etc. Julgo isso a algum componente alérgico que tive/tenho contato desde que voltei a morar na minha cidade natal. Já mudei de lugar de moradia (um mês depois de mudar), cogito nem ir mais ao laboratório onde faço pesquisa (devido ao ar condicionado poluído). Tenho feito lavagem nasal e usado um remédio indicado por uma médica, mas não vejo grandes melhoras. E isso me causa insatisfação, porque o que quero é melhorar logo.

Além disso, e é isso que tem ativado o modo "hard" da minha ansiedade, tenho sentido espécie de vertigens ou tonturas. Não sei a diferença, mas o fato é que quanto estou andando, sinto-me desorientado às vezes, com sensação que vou cair. Também sinto que estou andando como bêbado, sem conseguir fazer uma linha mais ou menos reta. Hoje a tarde, ao sair de uma biblioteca, estava tão desorientado, que não conseguia olhar para frente sem ficar andando em zigue-zague. Não é aquela coisa que acontece quando viramos a cabeça de repente e sentimos um pouco de tontura. É estando parado ou andando numa rua. Resultado: fui do local onde estava até o ponto de ônibus procurando linhas no chão para poder seguir. Aí funcionou mas já tinha ativado meu modo "estou doente, vou ter um treco e vou morrer agora".

Outra característica da parte superior da parábola, é que pesquiso todo o dia sobre doenças e sintomas. Qualquer dor ou sensação, já vira uma pesquisa no google. Hoje, por exemplo, fui pesquisar porque não consigo andar em linha reta. Vim para casa com medo (já medicado com o SOS) e só saí para ir ao mercado porque estava com fome e precisava comprar algo pra comer. Mas fui com medo de ficar zonzo de novo.

Após essas crises, eu fico com medo, esperando a próxima. O resultado? Trabalho mal, durmo mal, vivo mal. Estou sempre em estado de alerta achando que vou ter de novo.

Não sei se isso tudo é "apenas" sinusite ou meus sintomas físicos são causados por um estado ansioso. O fato é que quando estou nessas fases, quero desistir de tudo e voltar pra casa da minha mãe. Fico triste porque não consigo ter uma vida normal, mesmo o meu lado lógico me mostrando que isso vai passar, como passou das outras várias vezes.

Mas, como bom ansioso, as três questões fundamentais são:

1) Quando vai passar?
2) Já atingi o pico da parábola?
3) Ou dessa vez não é "só" ansiedade?

A ver...

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