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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Lições a partir das perdas

Agora à noite faleceu meu padrinho. Como estou? Não vou dizer que estou arrasado, desesperado ou qualquer coisa do tipo. Convivemos sempre muito pouco e a minha madrinha (minha avó e mãe dele) o cobrava para ser mais participativo na minha vida.

Mas, sinceramente,  nunca senti falta e nem guardei rancor ou qualquer outro sentimento ruim quanto a isso. Ele tinha a vida dele, filhos para criar, muito trabalho e sempre lidei bem com o fato de nunca ter tido um padrinho na prática.

Sempre tive relação mais próxima com outros tios do que com ele mas penso que era por uma questão de afinidade. Então, nunca sofri por não ter tido padrinho no dia a dia.

Como deve ser com toda perda, algumas lições ficam. Uma é que a nossa vida pode acabar a qualquer momento e por isso nossa vida tem que ser vivida todos os dias.

Esse meu tio, por exemplo, sempre trabalhou muito. Muito mesmo. Trabalhou tanto não para ter luxo (ele sempre foi bem simples) mas para poder dar boas condições a sua família. Nos últimos anos, por causa do trabalho dele, meu tio viajava pelo Brasil, muitas das vezes em pequenos aviões para fiscalizar obras da empresa.

Ou seja, ele viveu boa parte da vida dele fazendo com que o chefe ficasse mais rico e sem poder desfrutar de tantos momentos junto aos seus. O dono da empresa, tenho certeza, desfruta bem a vida, às custas das vidas abdicadas pelos seus funcionários, como meu tio.

São escolhas que se fazem na vida. Por muito tempo eu vivi assim também e vi que só estava sacrificando minha vida para enriquecer os outros. E a entrada do transtorno de ansiedade na minha vida era o que eu precisava para acordar. Eu trabalhava antes para ganhar mais dinheiro mas mal tinha tempo de gastar e quando o fazia, fazia de forma errada.

Muitas pessoas, gastam horas das suas vidas para ganhar dinheiro para manter um padrão de vida que alguém disse que é o certo. Isso é vida? A quem serve isso? Certamente aos patrões que pagam salários ruins e sugam a vida de seus funcionários.

Há meses eu abdiquei do verbo "ter" na minha vida. Ter no sentido material, claro. Preciso dizer a vocês que tirei um peso enorme das minhas costas porque não tinha mais que trabalhar mais e mais para comprar um carro que alguém disse que é legal.

Eu vivo hoje com menos de 1/3 do que ganhava antes e posso dizer: minha vida anda muito boa. Cada vez melhor. Estou me cuidando, cuidando das pessoas que amo, ajudando os outros, fazendo exercícios, praticamente todo dia fazendo coisas prazerosas.

Enfim, meu tio fez uma escolha. Criou muito bem seus filhos e são esses que preciso dar apoio agora. Como primo e como ser humano que se preocupa com os outros.

Tio, sei que nunca estivermos próximos. Mas no meu coração não tem nada de sentimento ruim, muito pelo contrário. Sempre vou me lembrar de quando me apresentou a música do Zé Geraldo. Sempre entendi seu jeito e nunca me incomodei com isso. Esteja certo que farei o possível para dar apoio a sua família e tentar ajudá-los da forma que puder, até mesmo com a experiência de quem também perdeu o pai tão cedo.

Descanse em paz, tio. Aproveite e dê um abraço no meu pai e um beijo na minha vó. Sei que vocês estão olhando por nós.

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