Normalmente, quando penso onde eu mais gostaria de estar nesse momento, me vem à cabeça estar junto da minha família. Por outro lado, se considerarmos não apenas o espaço, esse seria o segundo local. Porque, antes de tudo, onde mais eu queria estar é no agora.
Desde cedo, minha vida tem sido pensar em estar em outros pontos no tempo-espaço além do que estou no momento. Seja uma vida onde eu não tenho dificuldades materiais ou numa em que sou amado e respeitado por todos. Geralmente eu pensava, ou penso, na junção dos dois cenários. Me pegava sonhando acordado com uma vida assim e passava muito tempo sorrindo ao imaginar como a vida seria boa quando isso tudo acontecesse.
Mas aí a vida passou, parece que muito rápido, e nada disso aconteceu. Tenho pessoas que me querem bem, é verdade, mas, fora a família, são raras as que realmente me procuram para perguntar "como você está?", sem ser daquela forma protocolar tão comum nessas comunicações virtuais durante a pandemia.
Não tenho amigos com quem conversar, pessoas com as quais sentamos e discutimos grandes questões da vida ou simplesmente paramos para rir de uma bobagem qualquer. Não culpo as pessoas, elas têm sua vida para cuidar e muitas cansaram de me procurar e levar uma resposta evasiva para um convite qualquer.
Aqueles sonhos de eu ser o centro das atenções, que todo mundo quer estar perto, nunca aconteceu além da minha mente.
Também não sou amado por mulher nenhuma. Já até fui, mas joguei tudo fora porque simplesmente canso fácil das coisas e das pessoas. Por mais que eu seja gente boa, isso não é suficiente para que mulheres se atraiam por mim. Aquele papo de "não importa a beleza, quero alguém legal e inteligente" é um dos grandes mitos dos relacionamentos. Como não sou bonito, não atraio as mulheres para conhecerem o que tenho de bom.
Assim como o Ted Mosby, de How I met your mother, sempre me vi sonhando em encontrar a "certa" para mim. Mas já são 43 anos de vida e eu nunca a encontrei além da minha mente.
A vida de sucesso material virou dívidas de milhares de reais. Contando pessoa física e jurídica, eram cerca de 80 mil reais há uns dois anos atrás. Agora é menos da metade disso e o meu maior sucesso será quitar tudo antes dos 45 anos. Viva!
Assim, a vida de carro, viagens e casa grande nunca aconteceu além da minha mente.
Também não sou admirado por ninguém por minhas competências. Quando era mais jovem, o meu único destaque era ser o melhor aluno da turma. Era péssimo nos esportes, horrível nas artes e nem era bom de papo. Logo, a única coisa que me restava era ser o inteligente. Mas, durante e depois da faculdade, em tudo o que fiz, eu sempre fui o pior entre os melhores. Poderia ver isso como o copo meio cheio, mas nunca enxerguei assim. A "admiração" que as pessoas têm por mim não tem nada a ver com a minha competência intelectual, mas por minha capacidade de ser um bom carregador de piano. Para elas, é para isso que sirvo.
Então, a vida em que sou admirado porque sou um gênio nunca existiu além da minha mente.
Passei toda a minha vida pensando num futuro que nunca aconteceu e perdi o bem mais precioso que Deus nos dá: o agora. Tenho certeza que desperdicei oportunidades de ter histórias para contar, quem sabe até cruzei com a certa por aí. Mas a vida passou e agora não sinto forças para correr atrás de tudo isso. Acho que pareço aqueles times que se entregam aos 35 do segundo tempo.
A idade chega para todos e temo como serão os próximos anos da minha vida. Porque agora, além do tempo que eu perco imaginando um futuro feliz, ainda gasto tempo me lamentando com o passado que fiz tudo errado. O passado não podemos consertar, já foi, mas não consigo me livrar dele.
Eu invejo as pessoas que conseguem viver o dia de hoje. Sei que Deus tem me dado diariamente novos "agora", mas simplesmente eu não consigo. E a vida continua passando muito rápido, as oportunidades são cada vez mais escassas e o corpo e mente parecem não funcionar como há cinco anos atrás. Cada dia isso parece mais claro, quando vejo que até minha capacidade de aprendizado está diminuindo.
Ainda assim, queria simplesmente ignorar tudo isso e viver a única coisa que tenho certa: o agora.
Cara, eu se fosse vocês, pagaria logo essas dívidas (que ainda bem que você já falou que estão bem encaminhadas) e tentaria viver dos pequenos prazeres da vida? O que seria eles? Não sei. Eu já fui muito tolo em achar que eu viveria bem tendo ninguém, apenas acesso à internet e um computador.
ResponderExcluirEu não sei exatamente o que você espera daqui pra frente. Não sei ter uma companheira ainda é prioridade pra você. Sei lá, cara, quando você achar uma maneira de passar bem o restante da sua vida, por favor me avise. O que eu sei é que, gente ansiosa como nós muito dificilmente consegue viver o agora, é quase impossível, nem com terapia consigo um negócio desses.