Meu estado de medo não se limita a questões de saúde, embora isso esteja bem em alta nessa pandemia. Olhando toda a minha história de vida, sempre fui um medrosão mesmo. Medo do que? Bem que gostaria de saber, pois quem sabe eu lidaria melhor com as situações da vida. No entanto, de uma coisa tenho certeza: esses estados de medo sempre me fizeram perder muito na vida. Ou, olhando de outra forma, deixei de ganhar. Sabe aquele time de futebol que não se arrisca para ganhar e acaba perdendo quase sempre? Esse sou eu na vida.
Aproveitando uma lembrança que tive nessa semana e uma pergunta do meu amigo Skull, vou limitar a minha escrita ao medo no que se refere a assuntos com mulheres. Sim, não tenho muitas histórias de relacionamentos com mulheres porque também são um medrosão no que se refere a elas. Com mais de 40 anos de idade, tive 3 namoros sérios, mais alguns relacionamentos de uma noite até a alguns meses. Se eu for contar quantas mulheres beijei na vida, acho que não chegou a 15. Mas quantidade não é problema, o que importa é qualidade. Pode ser, mas vamos ver de outra forma: tem pouco mais de 4 anos que não fico com ninguém. Quatro anos sem ao menos beijar alguém. Isso ainda te parece normal?
Esse meu medo de mulheres vem desde a época da escola. Apesar de não ser o cara que mais despertava a atenção das colegas, não posso afirmar que nunca tive minhas oportunidades de deixar de ser "bv" antes dos 15 anos. Lembro de pelo menos duas oportunidades de ter ficado com colegas de escola ainda bem novo. Com uma delas, a gente passava se olhando o tempo todo mas eu nunca tive coragem de me aproximar dela. Tempos depois, com outra menina, eu tomei meu primeiro fora da vida. Acho que eu tinha 12 anos e, como não tinha coragem de me declarar a menina que gostava, um amigo fez a consulta. Lembro que doeu a resposta "ela disse que só quer ser sua amiga".
Tempos depois veio a história com a menina que lembrei nessa semana. Eu tinha quase 14 anos e já estava em outra escola. No primeiro dia de aula da oitava série (hoje chama de 9o ano), eu estava esperando dar o sinal para entrar na escola e troquei uns olhares com uma menina que já tinha tido algum interesse no ano anterior, mas ela tinha namorado na época.
Quando descobri que ela não estava mais namorando, comecei a ficar bem interessado nela. E ela parecia corresponder, pois sempre trocávamos olhares no recreio ou antes de entrar na escola. Essa menina foi a primeira por quem me apaixonei. Lembro que ficava nervoso, pois éramos de séries diferentes e eu não sabia como falar com ela. Também não conseguia conversar com nenhum amigo sobre isso, não sei porque. Acho que ainda hoje tenho esse problema de dizer a alguém que estou interessado em fulana de tal.
Passei todo o ano tentando imaginar algum jeito de me aproximar dela. Ficava escrevendo cartinhas, ensaiando algum jeito de falar com ela ou pedir ajuda a alguém. Uma vez, já perto do final do ano, estava chovendo no recreio e todos os alunos estavam dentro do prédio da escola. Teve um momento que eu estava no corredor, sem meus amigos, e do outro lado estava ela, também sem as amigas. Ficamos nos olhando por vários minutos e aqueles cinco metros de distância pareciam quilômetros. Bastava eu atravessar o corredor e falar com ela. Apenas isso e eu não consegui.
Acabou o ano e eu lembro de ter sofrido muito, porque sabia que tinha perdido a chance, já que eu mudaria de escola e ela não. Minha prima, que estudava na mesma escola e era do mesmo ano da menina, já sabia da minha paixão, mas nunca pedi ajuda a ela. Porque eu não sei. Bastava eu pedir e minha prima falaria com ela, ou nos apresentaria.
Como a cidade é pequena, a vi outras poucas vezes, mas já tinha passado minha chance. Anos depois, eu mudei de cidade e minha prima contou que a menina tinha engravidado. Lembro de ter ficado triste na época, mas eu já estava em outra.
Contei essa história longa porque eu sinto que minha vida teria sido muito diferente se eu tivesse tentado algo com a menina da escola. Tive alguns relacionamentos depois, mas nada que fosse algo fácil. Sempre eram histórias longas, que eu demorava muito tempo para tomar a iniciativa. Apenas uma vez foi diferente: fiquei com uma moça desconhecida num ônibus durante uma viagem.
Vira a mexe eu relembro dessa história da escola, me lamentando por não ter atravessado o corredor naquele dia chuvoso e me apresentado à menina que eu gostava. Acho que eu teria sido uma pessoa diferente se tivesse tido essa experiência naquela época. Outros casos semelhantes aconteceram comigo, em vários momentos da minha vida. Uma vez, numa balada em Goiânia, uma mulher claramente deu o sinal verde para eu me aproximar e eu não consegui ir até ela. Nesse caso, eu já não era mais um menino de 14 anos, mas um cara de 38.
Não acho que a quantidade seja realmente algo relevante. Mas me dói tanto não ter vivido todas essas experiências que eu tive realmente a oportunidade. Seja para um namorico de adolescente, uma ficada de balada ou uma noite de sexo. O medo do fora e da decepção me tiraram a chance de ter vivido histórias bem legais.
Tenho tido a sensação de que minha vida acabou, de que não terei mais chance de ter essas experiências. Em outros momentos, penso em fazer diferente quando essa pandemia acabar e viver a vida, com todos seus ônus e bônus.
Será que eu atravessarei o corredor dessa vez?