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domingo, 28 de março de 2021

Viver com dignidade

Mesmo com tantos incômodos físicos e mentais, hoje não quero falar de doença. Pelos menos durante os minutos que escrevo este texto, não quero pensar em doenças ou morte.

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Estava conversando com uma pessoa ontem sobre futuro, trabalho, etc, e aí lembrei do texto que escrevi aqui, em que falei das minhas ambições no meu início de carreira profissional. Quando lembro disso, tem vezes que dou risada, outras vezes me sinto um fracassado e em outras acho que eu era muito arrogante. Por tudo o que aconteceu, especialmente nos últimos 10 anos, sou outra pessoa, com outros sonhos/objetivos.

Eu quero uma casa no campo...

Meu apego a uma visão de superioridade, de destaque e de sucesso me fez trocar os pés pelas mãos muitas vezes, cometendo erros sucessivos quando a solução ótima era a que estava perto de mim. Pode parecer uma visão derrotada, mas quantas chances desperdicei de garantir as coisas que mais gostaria de ter hoje.

Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapê

Eu não fico totalmente frustrado com o eu de hoje. Apesar das limitações que a idade traz, da falta de dinheiro, do excesso de dívidas e do patrimônio zero, as "derrotas" nas minhas ambições me trouxeram ao eu de hoje, que certamente é uma versão evoluída do que se eu tivesse tido "sucesso" nos meus planos de ser rico. Não acho que eu teria sido um faria limer,  mas certamente muito do que valorizo hoje nem passaria pela minha cabeça.

Na conversa de ontem, eu disse que o que mais queria hoje era ter um espaço para plantar, longe dos grandes centros e com a vida simples. Fui além, disse que, a despeito dos meus títulos acadêmicos, o que me interessava era ter um emprego que me garantisse uma vida digna nos próximos anos. Pensei em dizer "nos anos que me restam", mas não quis preocupar a pessoa com quem falava.

Com toda a minha bagagem, é um processo que não vai ser rápido. Nem sei se chegarei a ter a casa no campo, mas, entre uma crise ou outra, estou trabalhando para tirar a principal bola de ferro amarrada na minha canela: as minhas dívidas.

Enquanto me arriscava a caminhar na avenida ontem, pensei num futuro de uma vida simples e digna e, pela primeira vez em algum tempo, me senti bem. Diria que até feliz.

Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais







domingo, 21 de março de 2021

Desgostoso com tudo

Nenhum dia tem sido bom nos últimos meses, mas hoje é daqueles dias que não estou com prazer em nada na minha vida.

Já tem uns 3 meses que estou com problemas gastrointestinais. Ainda tenho alguns exames para fazer, mas o último gastro acha que é a tal síndrome do intestino irritável. O fato é que ando com medo de comer qualquer coisa e perdi uns 6-7 quilos desde dezembro. Eu já vinha fazendo dieta antes, comendo melhor e evitando as porcarias que eu gosto. Desde outubro do ano passado, perdi uns 12 quilos. 

Embora a primeira parte da perda de peso tenha sido da maneira que eu entendo saudável, a segunda está bem acelerada porque estou comendo muito menos. Nas últimas duas semanas, por exemplo, minha alimentação tem sido arroz e legumes (sou vegetariano), com frutas e torradas entre as refeições principais. 

Quando me toco disso tudo, percebo que nem para comer estou tendo prazer. Comi um chocolate há duas semanas e passei muito mal. Aí tenho evitado tudo o que acho que pode me fazer mal, me alimentando só com essa alimentação de hospital. Pelo menos comecei acompanhamento de nutricionista para melhorar isso. Os exames devem mostrar que estou com deficiência de vários nutrientes. 

Meus dias tem sido assim ultimamente. Comendo por obrigação, dormindo mal e passo triste o dia todo. Saudade imensa da minha família, abro as notícias e fico arrasado com cada coisa que leio. Fora alguns momentos que assisto alguma coisa para tentar esquecer de tudo, minha rotina tem sido quase completa de momentos desgostosos.

Queria ao menos poder sair de casa. Quase não pego sol e a última caminhada foi em janeiro. Ou seja, estou com todos os ingredientes para afetar ainda mais a minha saúde mental.

Pelo menos busquei ajuda. Marquei uma primeira consulta com uma psicóloga nesta terça. Não estou com dinheiro sobrando para mais esse gasto, mas preciso achar uma saída para o que acontece comigo.     

domingo, 7 de março de 2021

O medo de perder tira a chance de vencer

Meu estado de medo não se limita a questões de saúde, embora isso esteja bem em alta nessa pandemia. Olhando toda a minha história de vida, sempre fui um medrosão mesmo. Medo do que? Bem que gostaria de saber, pois quem sabe eu lidaria melhor com as situações da vida. No entanto, de uma coisa tenho certeza: esses estados de medo sempre me fizeram perder muito na vida. Ou, olhando de outra forma, deixei de ganhar. Sabe aquele time de futebol que não se arrisca para ganhar e acaba perdendo quase sempre? Esse sou eu na vida.

Aproveitando uma lembrança que tive nessa semana e uma pergunta do meu amigo Skull, vou limitar a minha escrita ao medo no que se refere a assuntos com mulheres. Sim, não tenho muitas histórias de relacionamentos com mulheres porque também são um medrosão no que se refere a elas. Com mais de 40 anos de idade, tive 3 namoros sérios, mais alguns relacionamentos de uma noite até a alguns meses. Se eu for contar quantas mulheres beijei na vida, acho que não chegou a 15. Mas quantidade não é problema, o que importa é qualidade. Pode ser, mas vamos ver de outra forma: tem pouco mais de 4 anos que não fico com ninguém. Quatro anos sem ao menos beijar alguém. Isso ainda te parece normal?

Esse meu medo de mulheres vem desde a época da escola. Apesar de não ser o cara que mais despertava a atenção das colegas, não posso afirmar que nunca tive minhas oportunidades de deixar de ser "bv" antes dos 15 anos. Lembro de pelo menos duas oportunidades de ter ficado com colegas de escola ainda bem novo. Com uma delas, a gente passava se olhando o tempo todo mas eu nunca tive coragem de me aproximar dela. Tempos depois, com outra menina, eu tomei meu primeiro fora da vida. Acho que eu tinha 12 anos e, como não tinha coragem de me declarar a menina que gostava, um amigo fez a consulta. Lembro que doeu a resposta "ela disse que só quer ser sua amiga".

Tempos depois veio a história com a menina que lembrei nessa semana. Eu tinha quase 14 anos e já estava em outra escola. No primeiro dia de aula da oitava série (hoje chama de 9o ano), eu estava esperando dar o sinal para entrar na escola e troquei uns olhares com uma menina que já tinha tido algum interesse no ano anterior, mas ela tinha namorado na época.

Quando descobri que ela não estava mais namorando, comecei a ficar bem interessado nela. E ela parecia corresponder, pois sempre trocávamos olhares no recreio ou antes de entrar na escola. Essa menina foi a primeira por quem me apaixonei. Lembro que ficava nervoso, pois éramos de séries diferentes e eu não sabia como falar com ela. Também não conseguia conversar com nenhum amigo sobre isso, não sei porque. Acho que ainda hoje tenho esse problema de dizer a alguém que estou interessado em fulana de tal. 

Passei todo o ano tentando imaginar algum jeito de me aproximar dela. Ficava escrevendo cartinhas, ensaiando algum jeito de falar com ela ou pedir ajuda a alguém. Uma vez, já perto do final do ano, estava chovendo no recreio e todos os alunos estavam dentro do prédio da escola. Teve um momento que eu estava no corredor, sem meus amigos, e do outro lado estava ela, também sem as amigas. Ficamos nos olhando por vários minutos e aqueles cinco metros de distância pareciam quilômetros. Bastava eu atravessar o corredor e falar com ela. Apenas isso e eu não consegui. 

Acabou o ano e eu lembro de ter sofrido muito, porque sabia que tinha perdido a chance, já que eu mudaria de escola e ela não. Minha prima, que estudava na mesma escola e era do mesmo ano da menina, já sabia da minha paixão, mas nunca pedi ajuda a ela. Porque eu não sei. Bastava eu pedir e minha prima falaria com ela, ou nos apresentaria.

Como a cidade é pequena, a vi outras poucas vezes, mas já tinha passado minha chance. Anos depois,  eu mudei de cidade e minha prima contou que a menina tinha engravidado. Lembro de ter ficado triste na época, mas eu já estava em outra. 

Contei essa história longa porque eu sinto que minha vida teria sido muito diferente se eu tivesse tentado algo com a menina da escola. Tive alguns relacionamentos depois, mas nada que fosse algo fácil. Sempre eram histórias longas, que eu demorava muito tempo para tomar a iniciativa. Apenas uma vez foi diferente: fiquei com uma moça desconhecida num ônibus durante uma viagem.

Vira a mexe eu relembro dessa história da escola, me lamentando por não ter atravessado o corredor naquele dia chuvoso e me apresentado à menina que eu gostava. Acho que eu teria sido uma pessoa diferente se tivesse tido essa experiência naquela época. Outros casos semelhantes aconteceram comigo, em vários momentos da minha vida. Uma vez, numa balada em Goiânia, uma mulher claramente deu o sinal verde para eu me aproximar e eu não consegui ir até ela. Nesse caso, eu já não era mais um menino de 14 anos, mas um cara de 38.

Não acho que a quantidade seja realmente algo relevante. Mas me dói tanto não ter vivido todas essas experiências que eu tive realmente a oportunidade. Seja para um namorico de adolescente, uma ficada de balada ou uma noite de sexo. O medo do fora e da decepção me tiraram a chance de ter vivido histórias bem legais.

Tenho tido a sensação de que minha vida acabou, de que não terei mais chance de ter essas experiências. Em outros momentos, penso em fazer diferente quando essa pandemia acabar e viver a vida, com todos seus ônus e bônus. 

 Será que eu atravessarei o corredor dessa vez?