Mais uma semana e eu mal saio da cama. Saí algumas vezes nesses dias para ir ao mercado comprar algo para fazer em casa e mais nada.
Deveria ter ido a clientes e não fui. Deveria ter ido a aula e não fui. Deveria ter ido dar o curso e não fui. Esse curso, que me traria alguma grana é mais uma porta que irei fechar na minha vida.
Sempre critiquei essa empresa por ganhar dinheiro com treinamentos pegando instrutores inexperientes e cobrando absurdos das empresas. Aí me chamam para eu dar um curso numa coisa que sou especialista e o que eu faço: aceito e confirmo. Fico pensando em quantas vezes mais irei ficar rasgando meus princípios.
Oportunidades surgem o tempo todo e eu não canso de decepcionar as pessoas e a mim mesmo. Continuo a atrasar meus projetos, não saio desse estado letárgico. As pessoas falam que tenho que ter força, lutar mas eu não tenho conseguido. Me falta um botão para apertar e eu passar a ter vontade de sair da cama, de aproveitar as oportunidades que a vida me dá todos os dias.
Oportunidades essas, que com meu comportamento, serão cada vez mais escassas. As pessoas pararão de contar comigo, como a pequena fez, pararão de acreditar em mim, como muitos clientes e simplesmente me deixarão de lado. Sinto que o mundo não me respeita, tenho tomado broncas de pessoas muito menos qualificadas do que eu e me sinto humilhado a cada semana.
Penso que essa vida não anda tendo sentido nenhum pra mim. O que me dá alguma força ainda é aquela que sempre foi meu exemplo de luta: minha mãe. Sinto que não posso deixar de lutar para não dar esse desgosto a ela. Já sofreu tanto nessa vida que pelo menos os filhos deveriam ajudar. E nem isso eu tenho conseguido.
As contas não param de chegar, devo 2 meses de aluguel e sou cobrado sempre. Devo ter entre notas e moedas, uns 110 reais que é o que vai me ajudar a comer esses dias e garantir uma ida a Sampa para atender aos clientes. Duro que não me animo a sair de casa, durmo tarde, praticamente troquei a noite pelo dia.
Os únicos momentos que não sofro tanto são quando estou nas salas de bate papo, nas quais eu sou o engraçado, descolado, amigo de todos, animado. Como diz a minha psicóloga, tudo é resumido ao virtual quando se trata da minha vida.
Estou enrolando para escrever para a empresa e dizer que não darei o curso. Apesar de achar que essa é uma atitude mais relacionada a não sair de casa do que propriamente um momento de consciência limpa de não colaborar com a prática que citei antes.
Estou com barba, fedendo, casa e louça suja. E não tenho vontade de sair disso. Pelo menos eu ainda tenho a internet...
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