Estava na terapia hoje e, no final, contei a psicóloga qual foi a minha principal razão em procurar fazer terapia de novo: em meio a tantos pensamentos de doenças e morte, não consigo ter um dia de paz. Acho que desde que me encontrei com a ansiedade, sempre convivi com pensamentos hipocondríacos sendo disparados a cada sensação no corpo. Nos últimos meses, no entanto, não há um dia sequer que eu não fique pensando que tal sintoma pode ser algo grave e vou morrer. Isso é vida?
Curioso como nossos desejos mudam ao longo do tempo, geralmente disparados por aquilo que você entende que é mais importante, ou melhor, por aquilo que mais te causa dor no momento. Quando era criança, as muitas privações me fizeram desejar ser alguém bem sucedido, materialmente falando. E movi todas as minhas ações nos primeiros 30 anos da minha vida para ser essa pessoa. Tive momentos de abundância, claro, mas a corrida pelo dinheiro não me trouxe praticamente nada de bom. Muito pelo contrário, deixei de ter experiências e afundei relacionamentos, principalmente comigo mesmo.
A partir dos 30, já com a ansiedade tomando conta da minha vida, meu desejo foi me curar disso. Mas o eu dos primeiros trinta anos não estava tão no passado assim, pois me vi muitas vezes tomando ações apenas por dinheiro. Então, de um lado tinha uma pessoa querendo ter aquilo que deixou pra lá nos primeiros 30 anos, enquanto do outro lado tinha a pessoa que queria ter muito dinheiro e coisas para preencher o vazio que tenho por dentro.
Claro que não consegui nem uma coisa e nem outra. Algumas experiências boas, é verdade, mas mais momentos esporádicos do que algo realmente transformador para o resto da minha vida.
Na casa dos 40, continuei a patinar entre essas duas pessoas, mas tendendo a querer mais experiências e menos ligado a desejos materiais.
Com tudo o que estou passando na pandemia e em especial nos últimos meses, chego a dar risada dos desejos que eu tinha. Simplesmente, não tenho a menor vontade de ter carros, casas grandes, etc. Nem tenho mais vontade de ser aquela pessoa de destaque que imaginava que eu seria. Por outro lado, essas coisas parecem ser mais alcançáveis do que eu mais quero hoje.
Paz.
"Quando era criança, as muitas privações me fizeram desejar ser alguém bem sucedido, materialmente falando. E movi todas as minhas ações nos primeiros 30 anos da minha vida para ser essa pessoa."
ResponderExcluirEu estava até pensando em postar algo relacioando a isso no meu blog, mas já me senti "satisfeito" lendo esse comentário aí, não tenho mais razão pra fazer isso. Incrível como fizemos a mesma coisa. Não sei com certeza o quão consciente você estava, mas eu literalmente falava para mim mesmo na frente do espelho que aquele lixo que eu via pelo menos ficaria rico. Gente iludida é foda, hein?
Bicho, às vezes você acha que deveria ter tido um acompanhamento psicólogico melhor quando era criança? Eu acho que isso "salvaria" tanta gente de se sentir perdido na vida e crescer confuso desse jeito aí, não acha?
Era assim mesmo. Não falei isso na minha postagem, mas muito disso de tentar ser alguém de sucesso era uma forma de compensar outras frustrações.
ExcluirCom certeza acho que deveria ter tido acompanhamento psicológico. Minha família fez o que podia, é claro, mas eu faria o eu-criança ter ajuda profissional. Mas eram outros tempos, né? Hj é comum falar de psicólogos, mas, quando criança, isso era tabu, especialmente onde eu morava.