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sábado, 30 de março de 2019

É impossível ser feliz sozinho

É impossível ser feliz sozinho

A linda música do Tom Jobim, que conheci ainda na adolescência quando tentava aprender violão, sempre ficou na minha memória, especialmente por essa parte. Talvez ela tenha ficado na minha memória como um lembrete para mim mesmo. No entanto, esse lembrete geralmente soa mais como uma constatação (ou sentimento) de fracasso do que propriamente algo que eu deveria cuidar na minha vida de maneira constante.

Acho que sempre me senti só, mesmo quando em convívio com outras pessoas. Seja na escola, nos trabalhos, nos empregos ou muitas vezes em casa mesmo. Não que as pessoas tenham me afastado, é claro. Longe de mim colocar na conta dos outros uma responsabilidade que é só minha. Eu mesmo tenho uma certa dificuldade de interagir com as pessoas. Embora ache que sou uma pessoa simpática, boa ouvinte e, como dizem algumas pessoas a meu respeito, até carismática. Eu gosto de pessoas mas não consigo me enturmar, em qualquer ambiente.

Quando estou em algum grupo, normalmente eu sou o que menos fala. A maioria das reuniões de trabalho que participo geralmente fico calado, especialmente quando me sinto inferior aos outros. Relembrando em grupos da escola, no recreio ou em festas, eu sempre era o da rodinha que ficava calado. Muitas vezes eu torcia para aqueles eventos acabarem logo para eu voltar para meu mundo comigo mesmo.

Em relação a relacionamentos amorosos, uma ex-namorada reclamava muito que não interagíamos com os outros, que só ficávamos conosco mesmo. E, também por ciúme ou insegurança, ela estava certa. Toda vez que tínhamos que estar em algum evento, seja com amigos ou com a família dela, eu ficava emburrado, torcendo para aquilo acabar logo. Lamento pelo incômodo que causei a ela nesse período.

Relacionamentos, amorosos ou não, são complicados. Temos coisas boas e também momentos nada agradáveis. E, olhando para trás, percebo que me isolei muitas vezes quando alguma coisa não saía direito. Seja quando era zoado, quando era rejeitado, ou qualquer outra coisa que me desagradasse. Muitas vezes me peguei com aquele falso pensamento de "não preciso de ninguém, sei me virar sozinho".

Tenho consciência que relacionamentos são construídos diariamente e exigem esforço nosso. Seja para entender as limitações dos outros, assim como muitas vezes entendem as nossas. Seja para aceitar que as pessoas também tem seus anseios, que não necessariamente sejam iguais aos nossos. Ceder e compreender são condições necessárias em quaisquer relacionamentos.

Olhando meu histórico vi que nunca estive preparado para isso. Raramente criei problemas para os outros por conta disso, porque realmente me importo com o próximo. Para não desagradar ninguém por conta de uma discordância minha e devido a minha incapacidade de aceitar algo diferente do que eu quero, eu geralmente me isolo, me achando autosuficiente.

E por que comecei a pensar nisso aos 40 anos de idade? É porque o sentimento de solidão tem me incomodado muito. Vou almoçar no restaurante da faculdade e vejo grupos de amigos e casais, todos tendo uns aos outros, e me vejo completamente só, esquecido pelo mundo. Passo finais de semana e não tenho ninguém para ligar ou sair. E nem falo só de namoro, mas ter com quem interagir.

Quando era mais novo, sempre me chamavam para sair. Uma vez, um amigo disse algo como: "Desisto de te chamar para as coisas. Você nunca vai!". E de tantos "não quero" na vida, as pessoas foram cansando e me encontro só, sem amigos, sem namorada, sem ninguém.

Boa parte dos meus colegas de faculdade já tem suas famílias e suas vidas próprias. Devo ser o último dos solteiros. Aquelas que eu tinha acabaram morrendo por falta de cuidados meus. Ninguém me considera para nada, nem para me chamar para fazer algum programa. E não culpo ninguém, pois desistiram de mim há muito tempo.

E aos 40 anos parece que está tão mais difícil construir novas amizades. Não sei por onde (re)começar. Meu ambiente acadêmico acaba se resumindo às reuniões e interações do dia a dia, nada que extrapole o horário comercial.

Achei que podia lidar com isso, mas tem sido muito difícil. Como bom ansioso, me preocupo, porque sei que a falta de relacionamentos tem impacto na nossa saúde mental e física. Penso como serei quando tiver meus 50 ou 60 anos, se não descobrir como mudar isso agora.

Não sei como fazer e, além de descobrir meios de como mudar isso, preciso melhorar como pessoa, de modo que não faça tudo errado novamente quando a vida me der outras oportunidades de ter pessoas nela. Aceitar os outros como eles são é parte de cuidar de relacionamentos. Mas como melhorar nisso de verdade, mais do que concordar com a lógica da sentença anterior?

A única certeza que tenho é que, como diz na música do Tom, é impossível ser feliz sozinho.









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