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domingo, 14 de novembro de 2021

Histórias de amor

Acho que nunca usei tanto YouTube quanto nessa pandemia. Sempre fiquei muito conectado na plataforma, mas estar em casa 24 hs por dia me fez usar ainda mais. E, numa das minhas andanças pelo YouTube, acabei ficando viciado numa novela. Sim, uma novela. Novela como outra qualquer, mas, por alguma razão, a história de amor dos protagonistas mexeu comigo de uma forma que fiquei triste quando a novela acabou. 

Fiquei dias tentando entender porque eu estava sentindo aquele vazio, mas acho que hoje consigo entender um pouco. O romance dos dois protagonistas me fez sentir coisas que tem muito tempo que não sentia e o fim da novela foi como o fim dos sentimentos diários que a novela me trazia. Algo como aquele vazio característico após o fim de um namoro.

Estive tão envolvido com a história, que passava todas as partes que não tinham os dois protagonistas e praticamente apenas assisti as cenas dos dois. Revi algumas vezes as cenas mais importantes: primeiro beijo, pedido de casamento, casamento, brigas, volta, etc. 

As sensações dessas cenas talvez tenham me lembrado sensações que vivi nas minhas histórias de amor. Não foram muitas e não tão profundas como na ficção, mas estão no meu passado. E aí me lembrei como é bom viver histórias assim. Não falo daquela coisa de conhecer alguém, beijar e tchau. Até porque isso na minha vida foi quase nada.

Me refiro a histórias onde se conhece alguém, os primeiros contatos, aqueles sentimentos de "será que ela se interessa por mim?", as tentativas de se aproximar até que finalmente acontece algo. Sinto falta dessas sensações, das incertezas, de pensar em alguém o tempo todo, em formas de agradar, da sensação do toque, do beijo...

Pode ser carência, mas não sinto falta apenas de coisa física. Lá se vão 5 anos desde o último beijo e transa, mas sinto falta mesmo de viver um romance com todo o seu caminho. Queria me apaixonar novamente, mesmo sabendo que o caminho das histórias de amor não são sempre repleto de flores. Queria ter essas sensações de volta, pelo menos mais uma vez.

Parei de acreditar que vou encontrar a "certa", como o Ted Mosby,de How I met your mother, mas realmente queria sentir essas coisas de novo. Até andei navegando pelos apps de encontros, quem sabe seja algo que farei mais na vida pós-pandemia. O fato é que a vida é muito curta e não é ficando trancado no meu mundo que vou encontrar isso de novo fora do mundo da ficção.


sábado, 16 de outubro de 2021

Se eu pudesse voltar atrás (2)

Li, num livro sobre budismo, que a principal causa do sofrimento é o apego. Olhando para trás na minha vida, vejo o quanto essa afirmação encontra fatos que a corroborem. Apego nem sempre tem a ver com pessoas ou coisas, mas pode até estar relacionado a uma posição profissional, um "nome", etc. Na questão profissional, o apego não me trouxe apenas sofrimento, mas uma dívida imensa que eu pago até hoje e que estará comigo por mais uns dois anos.

No início da vida profissional de quem vai para a faculdade o normal é começar aos poucos, com estágios nos quais vamos adquirindo experiência. Depois disso, aparecem empregos melhores e cada um pode ir subindo na carreira. Pelo menos é isso que normalmente acontece com quem estuda onde eu fiz faculdade. Mas quem disse que as coisas são normais na minha vida?

Não sei da vida de todo mundo que estudou comigo, mas sei que a grande maioria está em cargos de destaque em grandes empresas ou faculdades. Alguns até fundaram empresas que hoje são sucesso e todo mundo fala. Esse é o caminho natural de quem estuda onde eu estudei. Não para mim.

Desde o primeiro semestre eu já trabalhava, pois era como conseguia me manter numa cidade longe da família. Mas era um trabalho na própria faculdade e isso não atrapalhava meu tempo para estudar. No segundo ano, me envolvi com atividades estudantis não-remuneradas. Apesar de não ganhar dinheiro, aprendi muito sobre postura profissional e fiz uma rede de contatos que tenho até hoje. 

Qual foi o problema então?

O problema, como em qualquer coisa na vida, foi o excesso. Eu estava mais comprometido com essas atividades do que com as aulas e isso explica porque demorei tanto a me formar. Teve um semestre que eu fiz apenas 10% dos créditos de disciplinas esperadas no semestre. Além disso, como acabei tendo uma posição de destaque nessa atividade, eu procurava me dedicar mais do que todo mundo apenas para mostrar que eu era o melhor. Não tinha esse tipo de medida, mas eu gostava de pensar que eu era o destaque.

No terceiro ano de faculdade, eu comecei um estágio remunerado na minha área e ainda mantinha essas atividades estudantis. Que tempo sobrava para estudar? Nenhum.

Neste estágio eu logo me desenvolvi muito rápido e alcancei uma certa posição de destaque na empresa. Ali meu espírito competitivo também estava presente e eu não queria perder meu destaque quando outros "competidores" entraram na empresa quando ela cresceu. Então tentava fazer o máximo possível e sofria porque não conseguia ser o mesmo destaque de antes, quando a empresa era pequena. Ao mesmo tempo, eu estava no meu "casamento" conturbado e isso de certa forma afetava meu desempenho profissional.

Naquela época muitos colegas estavam abrindo empresas. Era o boom dos negócios de Internet no Brasil e logo surgiram possibilidades para mim também. Eu estava tão apegado a ideia de ter uma posição de destaque que não pensei duas vezes quando surgiu a oportunidade de abrir uma empresa com outros colegas. Na nova empresa eu seria um dos donos e isso fazia bem para a minha vaidade, já que no estágio que eu estava não tinha mais esse destaque.

Então larguei uma empresa que me pagava razoavelmente bem e fui abrir a minha. Quando olho para trás, vejo que essa foi uma das minhas grandes burradas. Enquanto meus sócios tinham uma certa reserva financeira, eu comecei na empresa nova sem nada no bolso. Ou seja, saí de uma situação que tinha salário para outra que não sabia quando ia ter salário. A vaidade me deixou tão cego que não fiz as contas simples que qualquer pessoa faria na situação.

Enquanto isso, boa parte dos meus colegas de turma estavam crescendo em seus empregos ou arrumando outros melhores. Para muitos deles já estava perto do final do curso e era mais fácil conseguir bons empregos. Não para mim, pois estive tão envolvido em atividades extracurriculares que me formaria dois anos depois dos outros.

O primeiro ano da empresa foi bem complicado. Os trabalhos que pegamos estavam demorando a nos pagar e as contas não paravam de acumular. Nesse ano eu recebi o primeiro aviso de despejo da minha vida e as coisas estavam muito ruins. 

Ainda era uma época que era fácil conseguir outro estágio, já que as exigências para estagiários é bem menor do que empregados. Bom, pelo menos era assim antigamente. E estudar numa instituição de ponta abria muitas portas para mim. Mas, mesmo assim, nem passava pela minha cabeça fechar a empresa e voltar a ter salário.

No final do primeiro ano, meus outros sócios, quase que ao mesmo tempo, decidiram sair da empresa. Suas reservas financeiras tinham acabado e fica difícil recusar ofertas de trabalho numa situação dessa. Vejo muitas histórias de empreendedores, mas normalmente as coisas são muito romantizadas. Na prática, sem ter um respaldo, era natural que meus sócios não resistissem às ofertas que apareciam, já que nossa empresa mal tinha rendimentos e as coisas não estavam dando certo.

Qual seria a escolha natural ali? Fazer o mesmo que meus sócios e voltar para o mercado de trabalho. Mas aí não seria eu, né?

Então, resolvi continuar com a empresa só eu. Na minha cabeça, bastava eu terminar os projetos pendentes e o dinheiro que entrasse seria suficiente. Além disso, contava o fato de que eu não queria assumir que tinha fracassado e não queria sair da posição de dono para voltar a ser um estagiário. 

Assim a empresa continuou por mais 11 anos, comigo lutando sozinho boa parte do tempo para ter projetos. Na melhor época, cheguei a ter quase 10 estagiários. Nos últimos 6 anos da empresa, quando as coisas fracassaram de novo, a empresa voltou a ser só eu, sem escritório e comigo trabalhando de casa ou atuando em clientes. Em um cliente cheguei a ficar por 3 anos diariamente, era quase como um emprego.

O fato é que fora esses 3 anos, a maior parte do tempo a empresa era só aperto financeiro. Eu mal conseguia pagar minhas contas e deixei de pagar impostos. Entre pagar o aluguel/comer e o imposto, era uma escolha muito fácil. Foram muitos anos vivendo assim e até hoje estou pagando todas as dívidas que eu fiz nessa época.

Por que não fechei então?

Estava tão apegado a ideia de ser dono, de ser destaque, que não enxergava o óbvio: assim como meu casamento, a empresa iria naufragar mais cedo ou mais tarde. Eu não queria admitir que tinha fracassado e ainda queria ser o "dono". Quando estive no momento mais terrível da minha vida, parei com tudo e voltei ao mercado de trabalho. Mas aí o prejuízo já tinha sido muito grande, não só financeiro.

Com esses anos todos tentando fazer a empresa funcionar, eu envelheci e o pior: fiquei desatualizado. Isso na minha área é fatal. Se quando estava na faculdade era fácil conseguir estágio, com 36 anos de vida e desatualizado nas tecnologias tudo era mais difícil para mim. 

Fiquei tão apegado a ideia de ser empresário que descuidei de tudo. Uma pessoa muito sábia me disse, bem no início da minha empresa, que eu não deveria deixar de lado a minha empregabilidade. Mas o apego a um navio afundando me fez esquecer desse conselho. Resultado: tinha 36 anos de idade quando parei com a empresa, com inglês básico e bastante desatualizado na minha área.

Pago até hoje o preço dessas escolhas erradas. A dívida em si vai ser quitada logo, mas afundei minha possibilidade de ter uma carreira. Com mais de 40 anos de idade, o tempo parece que passa mais rápido, o corpo e a cabeça não são mais os mesmos e não tenho uma reserva material que me sustente. 

Então, se eu pudesse voltar atrás, teria fechado a empresa lá no primeiro ano e saído junto com meus sócios. Ou teria fechado quando tive que escolher entre pagar as contas de casa ou da empresa.

O sonho de ter uma empresa de sucesso é muito bonito naquelas palestras de Tedx ou postagens no LinkedIn. Alguns de fato conseguem chegar lá, mas a maioria não vai chegar.  Não diria para as pessoas deixarem os sonhos de lado, mas equilibrar com o pragmatismo de quem tem contas para pagar e não é rico.

No meu caso, o apego me deixou cego para a realidade naquela época e agora aqui estou eu, preocupado como irei me manter quando eu for idoso.






segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Se eu pudesse voltar atrás (1)

Nem sempre minhas postagens são em momentos de ansiedade ou quando preciso botar algo pra fora. Às vezes são só divagações mesmo, embora nem sempre venha aqui colocar no "papel" quando estou nas reflexões sobre a minha vida.

Estava assistindo um episódio de This is Us em que um dos personagens fica imaginando cenários da sua vida se tivesse tomando uma certa decisão em relação ao seu pai. Lembrei do que escrevi sobre desejar às vezes que isso tudo fosse um sonho ruim e pudesse acordar para fazer a escolha certa, tal como acontece em alguns filmes. 

Tem tantas coisas que gostaria de poder voltar atrás e fazer diferente. Muitas delas têm a ver com relacionamentos e hoje lembrei de uma ex. Na verdade, tenho lembrado dela às vezes e tive a curiosidade de pesquisar sobre ela nas redes para saber como ela está.

Ela foi minha primeira namorada, então já faz um certo tempo. Foi a primeira com quem tive relações sexuais e chegamos a morar juntos. Acho que no total foram quase 4 anos juntos e estávamos ainda na faculdade. Eu também fui o primeiro dela e acho que muito dos sentimentos de culpa que sinto tem a ver com ela. Por outro lado, tem muito a ver com o mal que eu fiz a mim mesmo pelo terrível sentimento do apego.

A falta de amor próprio e baixa confiança em mim mesmo vem de muito longe. E isso tornou nosso relacionamento muito ruim em vários momentos. Eu tinha muito ciúme dela e sempre achava que ela iria se interessar por outra pessoa ou que alguém iria dar em cima dela e ela iria preferir essa pessoa. Morria de medo de ser traído. Estávamos em um curso em que ela era uma das poucas mulheres e isso aumentava ainda mais a minha insegurança.

Lembro que toda vez que ela saía sem mim, quando voltava pra cidade dela, eu ficava sofrendo muito imaginando que alguém iria dar em cima dela e ela não resistiria. Além de ter dificuldade em confiar nela, achava que qualquer pessoa seria mais interessante do que eu. Mas não a culpo, o problema da falta de confiança era só meu. 

Nunca fui de fazer escândalo por causa de ciúmes, o meu jeito era ficar com cara de emburrado até ela perguntar o que eu tinha. E aí vinham as discussões. Era tão insano que, quando ela saía na cidade dela, mesmo em compromissos familiares, eu pedia para ela me ligar quando chegasse. Chegou num ponto que fui procurar terapia no serviço da faculdade. Nesse ponto sou grato, já que conheci a psico que me acompanhou por uns anos e fez muito por mim.

Além das discussões que aconteciam por causa do meu ciúme, ela me dava vários sinais que aquele relacionamento não teria vida longa. E eu não estava satisfeito com o que tínhamos, mas nunca tive coragem de terminar. Achava que era melhor estar assim do que voltar para a vida de ir para baladas e não conseguir me aproximar de ninguém, vendo meus amigos ficarem com alguém e eu passando em branco.

Na época do primeiro término, ela me escreveu uma carta, mesmo a gente morando junto. Felizmente lembro pouco dessa carta, mas ela falava que queria experimentar outras coisas, que era muito nova para estar presa. A parte que me mais doeu, e nunca esqueci disso, foi quando ela se referiu a características físicas minhas que, mesmo eu melhorasse, ainda assim ela não se sentiria atraída por mim. Em resumo: me chamou de feio de maneira delicada.

Aí ela terminou comigo e separamos de casa. Lembro que sofri muito e até chegava a acessar o email dela para saber o que ela estava fazendo. Quando li que ela ficou com um cara eu fiquei muito mal. Mas isso me ensinou que acessar dados dos outros é uma coisa muito errada. Depois disso, nunca mais quis saber senha de ninguém e nunca deixei que acessassem as minhas coisas.

Passamos uns dois meses separados e acabamos voltando. Acho que tínhamos nos acostumado um com o outro e carência deve ter batido para ela. Como eu era a opção disponível e ainda gostava dela, não me importei com tudo o que passamos no nosso término. Olhando pra trás, com tudo o que ela falou pra mim naquela término, eu nunca deveria ter voltado. Não por rancor, mas por saber que, apesar das palavras cruéis, ela foi muito sincera naquela carta. Logo, eu não tinha ficado bonito dois meses depois e ela continuava sem ter todas as experiências que gostaria de ter tido como solteira.

Quando voltamos, as coisas não mudaram muito. Não morar junto era bom, mas as crises de ciúme persistiam e ela reclamava às vezes que a vida tava passando sem poder aproveitar as coisas. Eu enxergava que aquilo ali não ia dar certo mesmo, mas continuava sem coragem de terminar. Penso em como teria aproveitado melhor a vida universitária se não estivesse tanto tempo preso num relacionamento que eu mesmo sabia que não tinha futuro. 

Mas não tinha coragem de dar o passo e coube a ela mais uma vez fazer o favor de terminar tudo. Eu sofri nesse término também, mas me sentia mais aliviado e não demorei muito para seguir em frente. Depois de um mês, eu já estava ficando com outras pessoas. Aliás, foi meu único momento da vida que fui o "pegador". Tudo bem que isso é um final de semana fraco para a maior parte dos caras, mas três ficadas em 2 meses era um super recorde pra mim. Isso foi uns meses antes de "conhecer" aquela que eu considero a mulher que mais amei na vida.

Eu sou muito grato com ela nesse nosso "casamento". Ela foi uma grande amiga, me ajudou em momentos muito difíceis da minha vida e sua família me acolheu de uma forma muito especial. No fim, acho que foi isso: grandes amigos que transavam às vezes.

Mas me arrependo de ter enchido tanto a paciência dela com meu ciúme. Queria ser uma pessoa mais confiante nos outros e em mim, principalmente. Me arrependo de decepcionar os pais dela quando descobriram que transamos e que estávamos morando juntos. Se soubesse que o que sei hoje, nunca teria topado morar junto sem estar num relacionamento firme. E também por gastar o que não podia para manter uma vida a dois.

Se pudesse voltar atrás, também teria terminado em todas às vezes que eu senti que aquilo não daria certo, que eu era apenas uma opção cômoda. Lamento ter me fechado no relacionamento com ela e não ter curtido meus amigos de faculdade. Ela nunca me impediu disso, eu é que não queria desgrudar dela por causa do meu ciúme.

Quando leio sobre relacionamentos tóxicos, penso no quanto mal eu fiz para ela. Sei também que fui maltratado muitas vezes, mas só posso me arrepender dos meus atos. Nunca cometi agressão nenhuma, nem verbal. Mas tenho certeza que minha cara emburrada de ciúme tirava ela do sério e minha necessidade de ter notícias dela a todo momento a sufocavam muito.

Se eu pudesse voltar atrás, tenho certeza que nosso relacionamento não teria continuado. Só que nós dois teríamos anos mais felizes e eu teria histórias boas para contar dos meus anos de faculdade.

sábado, 2 de outubro de 2021

Culpa e viver no passado

Falei numa postagem o quanto eu gostaria de estar no presente. Eu vou passando meus dias apenas empurrando com a barriga e acho que isso acontece porque não consigo seguir em frente. Seguir em frente, na minha opinião, significa desapegar e isso para mim é muito difícil. Eu esqueço às vezes, mas não desapego.

Acho que culpa tem muito a ver com isso. A gente não consegue se perdoar e continua a carregar essa bagagem por muito tempo. Às vezes essa bagagem é tão pesada que nos impede de ir em frente e aí ficamos no mesmo lugar. Assim parece que sou eu e sou lembrado disso a cada vez que vejo como minha vida é anormal. Me questionei sobre isso em postagens anteriores sobre a relação entre não ser normal e eventuais castigos do Universo.

Semanas atrás estava vendo vídeos sobre culpa, sobre se perdoar, porque estava buscando orientação sobre isso. Tem horas que fica impossível ignorar a culpa e me bate uma angústia tão grande. Não há remédio que cure isso, no máximo me desligar por algumas horas para não sentir isso.

Essa pandemia é um inferno e para pessoas como eu tem sido mais difícil ainda. Por outro lado, estar tanto tempo isolado tem me colocado ainda mais em contato com toda essa bagagem e isso talvez possa ter seus benefícios. Ter contato com essas reflexões talvez seja uma forma de finalmente me tratar.

Não sei se foi Chico Xavier que disse, mas penso naquela frase mais ou menos assim: "não se pode fazer um novo começo, mas se pode fazer um novo fim".

Independente do contexto em que foi dita, a frase tem muito a ver com a questão da culpa e se perdoar. Infelizmente minha vida não é aqueles filmes que você acorda e vê que estava num pesadelo, tendo a chance de fazer a escolha certa dessa vez. Logo, não consigo apagar todas as escolhas erradas que fiz, isso é claro para mim. O que gostaria é de poder seguir em frente e trabalhar no "novo fim". 

Sofro tanto por causa das escolhas erradas e não consigo me perdoar. Essas bagagens alugam tanto espaço na minha mente que talvez o meu verdadeiro castigo seja conviver com elas.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Carma? Castigo?

Meus poucos leitores devem perceber que a frequência das minhas postagens está relacionada com minhas crises de ansiedade. Para ser sincero, não tenho tido grandes crises a ponto de pensar num SOS, mas meus dias têm alternado entre mais ou menos tranquilo e outros bem ruins.

Acho que deve ser um questionamento comum de quem tem algum tipo de doença crônica, mas tem horas que me pergunto porque isso acontece comigo. Porque não tenho a vida normal que as outras pessoas têm, como falei na postagem anterior.

Como alguém quase-espírita, sei que muitas provas que passamos nessa existência são oportunidades de aprendizado. Não acredito em castigo do Universo ou num Deus que nos pune pelas coisas erradas do nosso passado. Mas, justamente quando penso em algumas ações do meu passado, percebo que se existisse punição divina, então eu estou recebendo exatamente o que mereço. 

Não sou uma pessoa ruim, mas pessoas boas também fazem coisas ruins. Tive desvios no passado, alguns graves e outros nem tanto. Percebo que ainda cometo alguns erros que não teria coragem de contar para a minha família. Se eu fosse corajoso em me mostrar como sou, certamente seria "cancelado" em uma semana. Mas eu sou um grande covarde.

Se existisse carma ou castigo divino, seria mais fácil explicar porque nenhuma mulher se interessa por mim. Talvez eu mereça nunca mais ter alguém na minha vida. Talvez pagando eu consiga beijar alguém de novo, mas, nas poucas vezes que recorri a isso, me senti a pessoa mais merda do mundo.

Não sei se tenho amigos. Sei que tem pessoas que gostam de mim e me ajudariam se eu pedisse. Mas acho que amizade é mais que isso. O fato é que ninguém se lembra de mim e, se existisse carma ou punição divina, eu mereço mesmo estar esquecido.

Não sei nem se mereço a família que tenho. Mas talvez eu seja o "carma" deles.


domingo, 26 de setembro de 2021

Ser normal

Falei na postagem passada sobre o tal "novo normal" que virá quando a pandemia acabar, mas tenho pensado no ser "normal", algo que parece tão distante pra mim. 

Vendo meus colegas de faculdade, pessoas com quem tive contato e mesmo familiares da minha geração, sei que posso ser tudo, menos uma pessoa normal. Claro que as pessoas geralmente só contam as parte boas das suas vidas, mas o que eu tenho?

Pessoas com quem estudei há 20 anos atrás hoje tem bons empregos e famílias. Essas eram coisas que sonhei lá atrás, mas não tenho nada disso hoje. Enquanto meus colegas têm empregos fixos, eu faço minhas atividades como autônomo, sem horas normais de trabalho e nem coisas básicas, como férias, cargos e até salário. Enquanto meus colegas irão acordar amanhã para ter mais um dia de trabalho, eu irei acordar tarde, porque não consigo dormir cedo, e vou enrolar até não conseguir adiar mais minhas atividades.

Enquanto meus colegas terão seus compromissos durante o dia, eu estarei com meus pensamentos obsessivos e arrumando algo para distrair a minha mente, já que o trabalho infelizmente não me propicia isso. No final do dia, meus colegas pararão seus trabalhos e irão fazer algo, como exercícios físicos, algum curso ou ficar com suas famílias.

E eu?

Eu estarei ainda com meus pensamentos obsessivos, fazendo alguma atividade que não consegui fazer durante o dia porque estava tentando me livrar desses pensamentos. Enquanto meus amigos estarão curtindo suas famílias ou indo dormir, eu estarei enrolando com coisas que só são úteis para me fazer esquecer da minha vida e dos meus pensamentos.

Claro que eles têm suas chateações, mas provavelmente deixam elas de lado em pouco tempo ou desabafam com suas esposas/maridos. Eu não tenho ninguém além desse blog, já que certas coisas não consigo nem compartilhar com minha psicóloga e ela vai me lembrar do medicamento que o psiquiatra passou.

Passarei mais um dia assim, sendo perseguido por esses pensamentos que ficam ainda mais ativos quando tenho um incômodo qualquer, como uma dor de cabeça. E tenho tido tantos incômodos que tem horas que penso: "foda-se, se Deus quiser me levar, que me leve".

Enquanto meus amigos estarão fazendo sexo com suas esposas ou namoradas, eu estarei pensando em como minha vida é uma droga e tentando descobrir quando tudo começou a dar errado para mim. Fico pensando que enquanto as pessoas têm o fluxo normal conhecer-namorar-casar, eu mal tive o conhecer-namorar e não sei o que é estar com alguém há 5 anos, mesmo casualmente. Sei lá se um dia vou ficar com alguém novamente sem pagar por isso.

Por que não sou normal e não tenho a vida como as outras pessoas? 

Postagem já ficou grande, continuarei em outra...

terça-feira, 21 de setembro de 2021

O novo normal

Irei tomar a segunda dose da vacina nos próximos dias e com isso ando mais ansioso. Quando saio para caminhar, ainda vejo mais gente com máscara do que sem, mas em muitos locais parece que a pandemia acabou faz tempo.

Com o andamento da vacinação, já rola uma certa pressão para encontros de todos os tipos. Para mim, que não entro em local fechado desde janeiro,  já estou ficando tenso porque não terei mais argumentos para continuar sem ir aos locais. Não que eu ache que a situação estará bem tranquila em novembro (não estará), mas acredito que serei um dos poucos que ainda usarão máscaras e evitarão aglomerações.

Por outro lado, estou tão cansado disso tudo. Toda vez que saio para caminhar fico desviando de pessoas sem máscara. Quando faço compras, sempre faço uma operação de guerra pra receber as compras aqui. Também não aguento mais terceirizar a escolha dos produtos que eu compro. 

Terei um evento familiar daqui a dois meses e já estou sofrendo com isso. Não pelo evento em si, porque serão pessoas que sei que se cuidam, mas porque o deslocamento até lá implica em eu estar em local fechado por umas oito horas.

Fico pensando como será quando entrar num ônibus ou metrô de novo. Se já fico tenso só em cruzar com gente sem máscara na rua, imagino como será num transporte cheio de gente. Aqui onde moro quase todas as restrições já caíram, acho que só restam as máscaras. Acredito que serei uma das últimas pessoas que abandonarão todos os cuidados. 

Além disso, com o "fim" da pandemia, alguns prazos voltarão a correr e isso tudo me deixa tenso. Tenho mais um ano para terminar meu maior projeto atual e isso é bem pouco tempo, ainda mais porque andei muito pouco nos últimos meses.

Tenho me esforçado para andar umas duas vezes por semana para perder um pouco o receio. Depois da segunda dose, acho que tentarei entrar em algum mercado ou pegar ônibus. Tenho alguns exames para fazer e acho que aproveitarei isso para voltar a ter contato com o mundo. Mas tudo isso me deixa tenso, pois o receio de pegar essa maldita doença ainda existe.

Mas o que mais me deixa tenso é porque sei que não poderei fugir pra sempre. Deveria comemorar que falta pouco, mas esse não sou eu.



terça-feira, 24 de agosto de 2021

Onde eu mais queria estar

Normalmente, quando penso onde eu mais gostaria de estar nesse momento, me vem à cabeça estar junto da minha família. Por outro lado, se considerarmos não apenas o espaço, esse seria o segundo local. Porque, antes de tudo, onde mais eu queria estar é no agora.

Desde cedo, minha vida tem sido pensar em estar em outros pontos no tempo-espaço além do que estou no momento. Seja uma vida onde eu não tenho dificuldades materiais ou numa em que sou amado e respeitado por todos. Geralmente eu pensava, ou penso, na junção dos dois cenários. Me pegava sonhando acordado com uma vida assim e passava muito tempo sorrindo ao imaginar como a vida seria boa quando isso tudo acontecesse.

Mas aí a vida passou, parece que muito rápido, e nada disso aconteceu. Tenho pessoas que me querem bem, é verdade, mas, fora a família, são raras as que realmente me procuram para perguntar "como você está?", sem ser daquela forma protocolar tão comum nessas comunicações virtuais durante a pandemia.

Não tenho amigos com quem conversar, pessoas com as quais sentamos e discutimos grandes questões da vida ou simplesmente paramos para rir de uma bobagem qualquer. Não culpo as pessoas, elas têm sua vida para cuidar e muitas cansaram de me procurar e levar uma resposta evasiva para um convite qualquer.

Aqueles sonhos de eu ser o centro das atenções, que todo mundo quer estar perto, nunca aconteceu além da minha mente.

Também não sou amado por mulher nenhuma. Já até fui, mas joguei tudo fora porque simplesmente canso fácil das coisas e das pessoas. Por mais que eu seja gente boa, isso não é suficiente para que mulheres se atraiam por mim. Aquele papo de "não importa a beleza, quero alguém legal e inteligente" é um dos grandes mitos dos relacionamentos. Como não sou bonito, não atraio as mulheres para conhecerem o que tenho de bom.

Assim como o Ted Mosby, de How I met your mother, sempre me vi sonhando em encontrar a "certa" para mim. Mas já são 43 anos de vida e eu nunca a encontrei  além da minha mente.

A vida de sucesso material virou dívidas de milhares de reais. Contando pessoa física e jurídica, eram cerca de 80 mil reais há uns dois anos atrás. Agora é menos da metade disso e o meu maior sucesso será quitar tudo antes dos 45 anos. Viva!

Assim, a vida de carro, viagens e casa grande nunca aconteceu além da minha mente.

Também não sou admirado por ninguém por minhas competências. Quando era mais jovem, o meu único destaque era ser o melhor aluno da turma. Era péssimo nos esportes, horrível nas artes e nem era bom de papo. Logo, a única coisa que me restava era ser o inteligente. Mas, durante e depois da faculdade, em tudo o que fiz, eu sempre fui o pior entre os melhores. Poderia ver isso como o copo meio cheio, mas nunca enxerguei assim.  A "admiração" que as pessoas têm por mim não tem nada a ver com a minha competência intelectual, mas por minha capacidade de ser um bom carregador de piano. Para elas, é para isso que sirvo.

Então, a vida em que sou admirado porque sou um gênio nunca existiu além da minha mente.

Passei toda a minha vida pensando num futuro que nunca aconteceu e perdi o bem mais precioso que Deus nos dá: o agora.  Tenho certeza que desperdicei oportunidades de ter histórias para contar, quem sabe até cruzei com a certa por aí. Mas a vida passou e agora não sinto forças para correr atrás de tudo isso. Acho que pareço aqueles times que se entregam aos 35 do segundo tempo.

A idade chega para todos e temo como serão os próximos anos da minha vida. Porque agora, além do tempo que eu perco imaginando um futuro feliz, ainda gasto tempo me lamentando com o passado que fiz tudo errado. O passado não podemos consertar, já foi, mas não consigo me livrar dele.

Eu invejo as pessoas que conseguem viver o dia de hoje. Sei que Deus tem me dado diariamente novos "agora", mas simplesmente eu não consigo. E a vida continua passando muito rápido, as oportunidades são cada vez mais escassas e o corpo e mente parecem não funcionar como há cinco anos atrás. Cada dia isso parece mais claro, quando vejo que até minha capacidade de aprendizado está diminuindo.

Ainda assim, queria simplesmente ignorar tudo isso e viver a única coisa que tenho certa: o agora.




domingo, 25 de julho de 2021

Voltando a fazer planos

Quando estava no pior das minhas crises nesse ano, eu tentava me animar pensando: "depois disso sempre veio a calmaria. por que agora iria ser diferente?". De fato, depois de uma época muito ruim, parece que as coisas andam mais calmas por aqui.

Não que esteja feliz ou livre de todos os meus pensamentos obssessivos. Na verdade, eles ainda estão bem presentes em mim. A diferença é que estou evitando a todo custo qualquer coisa que pode gerar um gatilho, como ter contato com qualquer pessoa nesta pandemia. Se não tenho contato, a chance de infectar é muito pequena. 

O risco existe apenas nos momentos que preciso receber alguma compra. Não vou a mercado desde janeiro e só recebo compras em casa, mesmo pagando mais caro e nunca vindo os produtos que realmente comprei. Mas nem pra isso tenho ligado, to mais preocupado no possível risco ao receber as compras. Então, uma vez por semana fico tenso com o risco mínimo e me sentindo mal por manter uma certa distância ao receber o entregador aqui. 

Outro ponto que contribuiu para essa calmaria foi a vacinação. Tomei a primeira dose e, mesmo sabendo que precisa das duas doses, isso me tranquilizou um pouco.

Acho que o que tem me animado mais é que estou conseguindo andar com as minhas tarefas, mesmo não dedicando oito horas por dia. Estou conseguindo entregar muita coisa e também recebendo por isso. Com isso, estou pagando dívidas e agora já começo a ver o fim da imensa dívida que adquiri nesses anos todos de falta de cuidado financeiro.

Acredito que até 2023 eu zero tudo, tanto na pessoa física quanto na pessoa jurídica. Para quem achava que só ia conseguir terminar de pagar tudo depois dos 50, já é uma grande vitória.

Com isso, e com certa calma com que ando, tenho pensado no futuro. Tanto em procurar saber mais sobre investimentos quanto em desenvolver projetos que possam me garantir alguma renda no futuro.

Para quem andava sem esperança alguma, já e algo a se comemorar. Espero continuar disso para melhor.



segunda-feira, 7 de junho de 2021

Madrugada com crise de ansiedade

Tenho tido crises de ansiedade, mas faz tempo que não acordava na madrugada tendo uma. 

Sempre tenho colocado algo pra ouvir enquanto tento dormir, geralmente áudios relaxantes. Hoje estava ouvindo um áudio da Louise Hay. Sei que cochilei durante o áudio, mas era aquele cochilo que você vai acordando.

Aí acordei de vez, comecei a pensar na dor que sinto em um dos lados da face e fiquei nervoso, me questionando se seria sintoma de covid. Sábado recebi compras aqui e, mesmo tomando todos os cuidados, sempre fico martelando o pensamento que posso ter falhado em algo e ter me contaminado.

Uma coisa puxa a outra e começo a ter crise de ansiedade que me deixa mais nervoso, a dor aumenta e fico observando cada sensação que aparece no corpo. E nessas horas são muitas. Dores gerais, respiração mais rápida, pernas tremendo e tudo piora.

Fico mais nervoso ainda porque sei que não tenho nenhum SOS aqui e hoje com certeza tomaria. 

Enquanto corro pra cá para escrever numa tentativa de botar para fora e passar o tempo, meu pensamento fica alternando entre medo de covid e dúvidas se essas dores não são apenas questões de má postura ou mesmo tensão que anda alta nesses dias.

Fazia tempo que não tinha crise de ansiedade nesse nível. Preciso arrumar um jeito de ter um SOS aqui.


segunda-feira, 31 de maio de 2021

Obrigado por ter sido meu amigo

Estava pensando ontem em quanto essa doença maldita tirou de todos nós. Serão quase dois anos da nossa vida que não serão recuperados. Momentos que não serão vividos, histórias que não serão contadas... Como se não bastasse tudo isso, hoje fico sabendo que a doença levou você. 

Puxa vida, cara. Por que tão cedo?

Penso em todos os momentos que deixamos de ter, mas me dói ainda mais saber que suas duas crianças não terão você. Rezo para que elas tenham força. Sei como é difícil crescer sem pai. 

Foi quase um ano de convívio diário naquela cidade estranha, onde quase todos nós éramos forasteiros. De todos os irmãos que fiz naquele lugar, você era um dos mais próximos.

Quando me disse que ia embora de lá para ficar perto da sua namorada, fiquei muito mal, mas entendi. Você estava buscando sua felicidade e eu tinha que aceitar isso. 

Foi um tempo curto, mas sempre terei ótimas lembranças de ti. Tomei os melhores porres da minha vida com você. Quantas conversas legais, sóbrios ou não, tivemos. Aquela viagem que decidimos fazer enquanto estávamos em mais uma bebedeira. 

Seus conselhos, nossas zueiras no trabalho, o companheirismo quase sempre para tomar cerveja e jogar sinuca na sexta à noite.

Foi amigo de todos, ótimo companheiro de trabalho e parceiro em tudo. Nunca vou esquecer que foi o seu ombro que me apoiou em um dos dias que mais senti dor na vida. De como você estava incomodado de me ver sofrendo com a perda do bebê, que no final nem sei se existiu mesmo, mas você estava lá comigo.

Teve também aquela noite incrível que ficamos batendo papo até de manhã e tomando suco de laranja barato que compramos na black friday.

Estava vendo as mensagens e nos falamos pela última vez no Natal. Eu tinha dito um pouco antes que assim que isso passar eu ia visitar você e sua família aí. 

Choro porque isso não será mais possível. Choro porque mais uma pessoa realmente boa foi levada desse mundo. Choro porque nunca mais vou poder te abraçar.

Eu deveria estar mais calmo, porque nós dois somos espíritas e sabemos que logo esse reencontro acontecerá.

Mas dói tanto, meu amigo tão querido.

Que nossos irmãos te recebam bem, que você faça essa passagem da forma mais tranquila possível e que sua família tenha forças.

Para mim foi uma honra ser seu amigo. Agradeço a Deus por ter tido a oportunidade de conviver com essa pessoa tão fantástica que é você.

Obrigado por tudo, japa. Sempre vou me lembrar de você.



 

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Reconheço que preciso de ajuda

No meio dessa semana aconteceu mais um fato que disparou meu nervosismo: conversei com a vizinha e ela me contou que estava resfriada. Pronto, meus dias desde então têm sido péssimos. Na hora eu tive diarreia e isso, de certa forma, trouxe algum conforto no meio da tempestade porque associei a causa dos meus problemas gastrointestinais ao meu estado emocional. Nunca tive esses sintomas, mas já parece meio lógico que essa é a causa nesse novo ciclo de ansiedade.

Passada essa reflexão, fiquei com meus pensamentos obssessivos, relembrando todos os passos na interação com a minha vizinha. Duro que eu abri a porta pra falar com ela e não me liguei de usar máscara. Justo eu. Para tentar me acalmar, fiquei analisando todos os fatores que aumentariam ou não o risco de infecção. Até medi por cima a distância que eu estava dela. 

Aí, as evidências mostram que as chances de infecção nessa interação são muito pequenas: estava há cerca de 2 metros dela em um local com ótima circulação de ar, nossa interação não durou 2 minutos e ela estava de máscara. Ou seja, fora o meu vacilo de não estar de máscara, todos os outros fatores diminuem e muito a chance de eu ter me infectado. Escrevi tudo isso num arquivo e leio muitas vezes por dia para ver se me convenço de que não peguei a doença.

Quase três dias depois desse evento, estou sem sintomas. Fora a diarreia, que tive no mesmo dia e é impossivel de se atribuir a doença. Mas fico contando o tempo todo quantas horas já se passaram desse contato e quanto falta para chegar em três, quatro e cinco dias, tempo médio que aparecem os sintomas. Eu calculo mesmo, e fico vendo a cada hora: "se passaram x horas, faltam y horas para chegar nas 72 horas do contato". Faço isso muitas vezes por dia.

Qualquer sensação diferente no meu corpo já é motivo para eu ficar nervoso e tornar a ler esse arquivo para me lembrar que a chance de ter pego é muito pequena. Ontem, falei com ela via whats e ela disse que o exame deu positivo pra covid. Já fiquei mais nervoso e passei o resto do dia observando ainda mais as sensações do meu corpo.

Como aqui está muito frio, aparecem alguns efeitos bem chatos no corpo, como a garganta ruim às vezes, alguma dificuldade de respirar, etc. Aì abro o mesmo arquivo e escrevo essas sensações, tentando me convencer que não é da doença e me lembrando que tive as mesmas coisas semana passada.

Acho que ficarei assim até chegar pelo menos no quinto dia do contato, próxima segunda. Espero que o final se semana voe. Curioso que fico assim em toda interação que julgo ser de algum risco. Conto até chegar no 5o dia e aí começo a me tranquilizar de novo. A diferença dessa vez é que tenho certeza que a outra pessoa está infectada.

Provavelmente não fui infectado, mas contei isso tudo para mostrar que capitulei em relação ao que escrevi de psiquiatras no último post. Sendo um gerador de receitas ou não, é fato que nesse momento eu preciso mais do que terapia e meditação. As coisas só têm piorado e isso tá afetando minha saúde física, pois diarreias constantes e minha alimentação limitada certamente são prejudiciais.

Enfim, vou aceitar qualquer opção de psiquiatra que eu puder pagar e vamos, provavelmente, começar medicação novamente.


 

 


terça-feira, 11 de maio de 2021

Ir a um Psiquiatra?

Faz dois meses que voltei a  fazer terapia. Apesar daquele início demorado, em que a profissional precisa te conhecer, tem sido bom. Não porque eu tenha tido alguma melhora nesse tempo, muito pelo contrário. Mas porque eu tiro um dia na semana para analisar minhas várias questões junto com uma psicóloga. Estava conseguindo fazer isso sozinho até o ano passado, mas esse ano está muito difícil. 

Hoje ela disse-me que gostaria que eu fosse a um psiquiatra. Ela já tinha comentado antes que talvez me encaminhasse para a psiquiatria, mas hoje falou isso como uma coisa que eu precisaria pensar. Confesso que não gostei, preferia que ficássemos "apenas" nas sessões de terapia. 

Acho que muito dessa minha resistência vem da minha análise econômica de um tratamento psiquiátrico. Não tenho muito dinheiro para consultas e os preços de consultas com psiquiatras são sempre muito altos e não vejo custo-benefício nisso. Talvez porque minhas experiências com psiquiatras foram bem insatisfatórias. Digo isso porque nos dois ou três que fui o procedimento era sempre o mesmo: aqueles minutos para falar o que estava sentindo e aí um receituário. Ou seja, exatamente o que um clínico geral faz com um custo bem mais acessível.

Além da questão econômica em si, começa aquele processo de início de medicação, que é uma droga. Toda vez que iniciei qualquer remédio para a ansiedade ou depressão, vem aqueles sintomas chatos. E nem falo pela libido não, sinceramente nem to ligando para isso. Me refiro a crises de ansiedade, diarreia, etc. 

Sei que são sintomas temporários, mas é mais um porém no tratamento. Outro ponto sobre a minha resistência é justamente sobre o tratamento. Simplesmente não tenho fé nesses tratamentos medicamentosos. Sei que os remédios têm eficácia comprovada nos vários estudos, mas nem sempre funciona para todos. Caso aquela medicação não funcione comigo, aí tenho que gastar mais uma grana, voltar ao psiquiatra para falar por uns minutos enquanto ele faz receita de outro tipo de medicamento para testar comigo.

Aí ficamos nesse ciclo até achar alguma coisa que funcione comigo. Se eu tivesse os mesmos rendimentos que tinha no passado, talvez suportasse esse processo  como tentativa. Mas sinceramente não tenho fé e mal tenho dinheiro para minhas contas normais, quanto mais para fazer testes com algo que no passado não funcionou.

Pode parecer injusto com tantos psiquiatras bons que devem ter por aí, mas nunca tive acesso a um desses. Quando leio relatos de outras pessoas, fico mais desanimado e sem fé ainda na psiquiatria para gente pobre que nem eu.

Então, se é para pagar apenas para pegar uma receita de remédio, eu prefiro um clínico geral. 

Enfim, não sei ainda o que fazer. A psicóloga gostaria da opinião de um psiquiatra, mas se for um gerador de receita automático eu prefiro um clínico geral. 





quarta-feira, 5 de maio de 2021

Mais um dia lixo

Quando estou no meio de uma crise, achando que estou com uma doença grave, fico com medo de morrer e peço a Deus para melhorar. Em outros momentos, fico refletindo como minha vida está uma droga e que talvez não seja tão ruim se as coisas acabarem logo. Nunca me passou pela cabeça tomar alguma atitude, longe disso. Mas, em certos momentos, fico pensando no cansaço que estou de sentir tudo isso, desse medo constante e, fora alguns momentos de calmaria, minha vida tem sido assim por 11 anos. 

Mas aí penso na minha família, em como seria duro com eles se algo acontecesse comigo. Tenho feito o que posso, buscando boa alimentação, fazendo exercícios quando tenho coragem e até voltei à terapia.

Hoje foi mais um dia merda na minha vida. Toda vez que tenho uma crise dessa, fico arrasado e não consigo fazer mais nada no dia. Estou com tanta oportunidade de fazer coisas legais, mas dias como hoje não me deixam fazer nada. Até tento fazer alguma atividade, mas fico tão arrasado que fico enrolando para o dia passar mais rápido e chegar a hora de dormir.

Queria ser uma pessoa normal. Queria que uma diarreia fosse só uma diarreia e não um sinal que posso ter algo grave no intestino. Queria que uma garganta arranhando fosse só uma garganta arranhando, e não um possível sintoma dessa maldita doença que destrói tantas vidas no mundo. Queria não ficar pensando em doença o tempo todo.

Queria viver o dia de hoje e não ficar pensando o tempo todo num futuro que não tenho tanto controle. Queria poder aproveitar o dia, sem ficar pensando que estou ficando velho, que as pessoas que amo estão ficando velhas e que o fim um dia chegará.

Queria ser como as pessoas que simplesmente tocam em frente, que dão o valor às coisas como tem que ser e nada mais. 

Eu não consigo ser assim e vivo há tempos nesse jeito merda de viver. 

Queria saber como é a sensação de ser uma pessoa normal. Que a essa hora está vendo TV, curtindo a família ou amigos, ou simplesmente fazendo alguma coisa qualquer. E não aqui em lágrimas, sentindo pena de si mesmo e sem saber o que fazer para melhorar.

Peço à Deus para não me deixar desistir, pois não suporto pensar no sofrimento da minha família. Queria saber como é ser feliz e ter paz.

 

 

 

 


segunda-feira, 19 de abril de 2021

Tocando o barco

Eu queria abrir esse blog e postar coisas alegres, quem sabe pequenas vitórias. Mas, se eu achava que estava mal ano passado, estou a cada dia pior. Tenho me apegado à esperança de que essa pandemia vai passar e que as sessões de terapia vão aliviar a minha dor. E até lá?

Até lá eu vou fazendo o que faço todo dia: passo o tempo. Não estou 100% parado nas minhas atividades, e sinto até que algumas coisas estão finalmente andando. Mas a sensação que tenho é que só estou tocando o barco, na espera do dia em que sairei dessa prisão.

Minha rotina durante a semana tem sido: acordo, tomo café, enrolo o máximo que posso e aí vou para as minhas atividades. Devo estar produzindo de duas a quatro horas por dia. É o máximo que tenho conseguido, porque o resto do tempo estou enrolando com alguma coisa para ver se os pensamentos obsessivos sobre doenças me deixam em paz.

Aí enrolo o tempo com nada que preste: canais inúteis no YouTube, jogo de cartas online, leitura de postagens em rede social e por aí vai. Assim passo de segunda a sexta, enquanto que no fim de semana enrolo com as mesmas coisas ou assisto algo no Amazon Prime (melhor investimento em entretenimento que fiz). 

Essa tem sido minha rotina a mais ou menos quatro meses. Às vezes saio pra caminhar ou pego um pouco de peso em casa. Quando faço essas coisas até me sinto bem, pelo menos naquele curto tempo em que estou cuidando do corpo. Mas nem sempre estou com ânimo para fazer isso, visto que a obsessão por doenças geralmente acaba com meu dia.

Estou com problemas gastrointestinais tem uns 5 meses já. Médico diz que é a tal da síndrome do intestino irritável, da qual virei especialista formado via Google. Seja lá o nome do que tenho, o fato é que estou com a alimentação super restrita e comendo sem prazer. Em 3 meses devo ter perdido 12 quilos e nem estava tão acima do peso assim. A cada diarreia meu dia fica destruído. 

Longe das pessoas que amo tem um ano e sendo atormentado diariamente por pensamentos sobre doenças, que prazer eu tenho na minha vida?

Talvez os canais inúteis do YouTube não sejam tão inúteis assim: me fazem esquecer da minha realidade por uns momentos. Tem horas que desejo dormir até isso tudo acabar. Sei que preciso continuar me cuidando, que isso ainda vai demorar, mas vai passar. Só que estou tão cansado de tudo... Deus me dê forças para aguentar mais e poder estar com minha família logo.



terça-feira, 6 de abril de 2021

O que eu mais queria hoje

Estava na terapia hoje e, no final, contei a psicóloga qual foi a minha principal razão em procurar fazer terapia de novo: em meio a tantos pensamentos de doenças e morte, não consigo ter um dia de paz. Acho que desde que me encontrei com a ansiedade, sempre convivi com pensamentos hipocondríacos sendo disparados a cada sensação no corpo. Nos últimos meses, no entanto, não há um dia sequer que eu não fique pensando que tal sintoma pode ser algo grave e vou morrer. Isso é vida?

Curioso como nossos desejos mudam ao longo do tempo, geralmente disparados por aquilo que você entende que é mais importante, ou melhor, por aquilo que mais te causa dor no momento. Quando era criança, as muitas privações me fizeram desejar ser alguém bem sucedido, materialmente falando. E movi todas as minhas ações nos primeiros 30 anos da minha vida para ser essa pessoa. Tive momentos de abundância, claro, mas a corrida pelo dinheiro não me trouxe praticamente nada de bom. Muito pelo contrário, deixei de ter experiências e afundei relacionamentos, principalmente comigo mesmo.

A partir dos 30, já com a ansiedade tomando conta da minha vida, meu desejo foi me curar disso. Mas o eu dos primeiros trinta anos não estava tão no passado assim, pois me vi muitas vezes tomando ações apenas por dinheiro. Então, de um lado tinha uma pessoa querendo ter aquilo que deixou pra lá nos primeiros 30 anos, enquanto do outro lado tinha a pessoa que queria ter muito dinheiro e coisas para preencher o vazio que tenho por dentro.

Claro que não consegui nem uma coisa e nem outra. Algumas experiências boas, é verdade, mas mais momentos esporádicos do que algo realmente transformador para o resto da minha vida.

Na casa dos 40, continuei a patinar entre essas duas pessoas, mas tendendo a querer mais experiências e menos ligado a desejos materiais. 

Com tudo o que estou passando na pandemia e em especial nos últimos meses, chego a dar risada dos desejos que eu tinha. Simplesmente, não tenho a menor vontade de ter carros, casas grandes, etc. Nem tenho mais vontade de ser aquela pessoa de destaque que imaginava que eu seria. Por outro lado, essas coisas parecem ser mais alcançáveis do que eu mais quero hoje.

Paz.

domingo, 28 de março de 2021

Viver com dignidade

Mesmo com tantos incômodos físicos e mentais, hoje não quero falar de doença. Pelos menos durante os minutos que escrevo este texto, não quero pensar em doenças ou morte.

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Estava conversando com uma pessoa ontem sobre futuro, trabalho, etc, e aí lembrei do texto que escrevi aqui, em que falei das minhas ambições no meu início de carreira profissional. Quando lembro disso, tem vezes que dou risada, outras vezes me sinto um fracassado e em outras acho que eu era muito arrogante. Por tudo o que aconteceu, especialmente nos últimos 10 anos, sou outra pessoa, com outros sonhos/objetivos.

Eu quero uma casa no campo...

Meu apego a uma visão de superioridade, de destaque e de sucesso me fez trocar os pés pelas mãos muitas vezes, cometendo erros sucessivos quando a solução ótima era a que estava perto de mim. Pode parecer uma visão derrotada, mas quantas chances desperdicei de garantir as coisas que mais gostaria de ter hoje.

Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapê

Eu não fico totalmente frustrado com o eu de hoje. Apesar das limitações que a idade traz, da falta de dinheiro, do excesso de dívidas e do patrimônio zero, as "derrotas" nas minhas ambições me trouxeram ao eu de hoje, que certamente é uma versão evoluída do que se eu tivesse tido "sucesso" nos meus planos de ser rico. Não acho que eu teria sido um faria limer,  mas certamente muito do que valorizo hoje nem passaria pela minha cabeça.

Na conversa de ontem, eu disse que o que mais queria hoje era ter um espaço para plantar, longe dos grandes centros e com a vida simples. Fui além, disse que, a despeito dos meus títulos acadêmicos, o que me interessava era ter um emprego que me garantisse uma vida digna nos próximos anos. Pensei em dizer "nos anos que me restam", mas não quis preocupar a pessoa com quem falava.

Com toda a minha bagagem, é um processo que não vai ser rápido. Nem sei se chegarei a ter a casa no campo, mas, entre uma crise ou outra, estou trabalhando para tirar a principal bola de ferro amarrada na minha canela: as minhas dívidas.

Enquanto me arriscava a caminhar na avenida ontem, pensei num futuro de uma vida simples e digna e, pela primeira vez em algum tempo, me senti bem. Diria que até feliz.

Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais







domingo, 21 de março de 2021

Desgostoso com tudo

Nenhum dia tem sido bom nos últimos meses, mas hoje é daqueles dias que não estou com prazer em nada na minha vida.

Já tem uns 3 meses que estou com problemas gastrointestinais. Ainda tenho alguns exames para fazer, mas o último gastro acha que é a tal síndrome do intestino irritável. O fato é que ando com medo de comer qualquer coisa e perdi uns 6-7 quilos desde dezembro. Eu já vinha fazendo dieta antes, comendo melhor e evitando as porcarias que eu gosto. Desde outubro do ano passado, perdi uns 12 quilos. 

Embora a primeira parte da perda de peso tenha sido da maneira que eu entendo saudável, a segunda está bem acelerada porque estou comendo muito menos. Nas últimas duas semanas, por exemplo, minha alimentação tem sido arroz e legumes (sou vegetariano), com frutas e torradas entre as refeições principais. 

Quando me toco disso tudo, percebo que nem para comer estou tendo prazer. Comi um chocolate há duas semanas e passei muito mal. Aí tenho evitado tudo o que acho que pode me fazer mal, me alimentando só com essa alimentação de hospital. Pelo menos comecei acompanhamento de nutricionista para melhorar isso. Os exames devem mostrar que estou com deficiência de vários nutrientes. 

Meus dias tem sido assim ultimamente. Comendo por obrigação, dormindo mal e passo triste o dia todo. Saudade imensa da minha família, abro as notícias e fico arrasado com cada coisa que leio. Fora alguns momentos que assisto alguma coisa para tentar esquecer de tudo, minha rotina tem sido quase completa de momentos desgostosos.

Queria ao menos poder sair de casa. Quase não pego sol e a última caminhada foi em janeiro. Ou seja, estou com todos os ingredientes para afetar ainda mais a minha saúde mental.

Pelo menos busquei ajuda. Marquei uma primeira consulta com uma psicóloga nesta terça. Não estou com dinheiro sobrando para mais esse gasto, mas preciso achar uma saída para o que acontece comigo.     

domingo, 7 de março de 2021

O medo de perder tira a chance de vencer

Meu estado de medo não se limita a questões de saúde, embora isso esteja bem em alta nessa pandemia. Olhando toda a minha história de vida, sempre fui um medrosão mesmo. Medo do que? Bem que gostaria de saber, pois quem sabe eu lidaria melhor com as situações da vida. No entanto, de uma coisa tenho certeza: esses estados de medo sempre me fizeram perder muito na vida. Ou, olhando de outra forma, deixei de ganhar. Sabe aquele time de futebol que não se arrisca para ganhar e acaba perdendo quase sempre? Esse sou eu na vida.

Aproveitando uma lembrança que tive nessa semana e uma pergunta do meu amigo Skull, vou limitar a minha escrita ao medo no que se refere a assuntos com mulheres. Sim, não tenho muitas histórias de relacionamentos com mulheres porque também são um medrosão no que se refere a elas. Com mais de 40 anos de idade, tive 3 namoros sérios, mais alguns relacionamentos de uma noite até a alguns meses. Se eu for contar quantas mulheres beijei na vida, acho que não chegou a 15. Mas quantidade não é problema, o que importa é qualidade. Pode ser, mas vamos ver de outra forma: tem pouco mais de 4 anos que não fico com ninguém. Quatro anos sem ao menos beijar alguém. Isso ainda te parece normal?

Esse meu medo de mulheres vem desde a época da escola. Apesar de não ser o cara que mais despertava a atenção das colegas, não posso afirmar que nunca tive minhas oportunidades de deixar de ser "bv" antes dos 15 anos. Lembro de pelo menos duas oportunidades de ter ficado com colegas de escola ainda bem novo. Com uma delas, a gente passava se olhando o tempo todo mas eu nunca tive coragem de me aproximar dela. Tempos depois, com outra menina, eu tomei meu primeiro fora da vida. Acho que eu tinha 12 anos e, como não tinha coragem de me declarar a menina que gostava, um amigo fez a consulta. Lembro que doeu a resposta "ela disse que só quer ser sua amiga".

Tempos depois veio a história com a menina que lembrei nessa semana. Eu tinha quase 14 anos e já estava em outra escola. No primeiro dia de aula da oitava série (hoje chama de 9o ano), eu estava esperando dar o sinal para entrar na escola e troquei uns olhares com uma menina que já tinha tido algum interesse no ano anterior, mas ela tinha namorado na época.

Quando descobri que ela não estava mais namorando, comecei a ficar bem interessado nela. E ela parecia corresponder, pois sempre trocávamos olhares no recreio ou antes de entrar na escola. Essa menina foi a primeira por quem me apaixonei. Lembro que ficava nervoso, pois éramos de séries diferentes e eu não sabia como falar com ela. Também não conseguia conversar com nenhum amigo sobre isso, não sei porque. Acho que ainda hoje tenho esse problema de dizer a alguém que estou interessado em fulana de tal. 

Passei todo o ano tentando imaginar algum jeito de me aproximar dela. Ficava escrevendo cartinhas, ensaiando algum jeito de falar com ela ou pedir ajuda a alguém. Uma vez, já perto do final do ano, estava chovendo no recreio e todos os alunos estavam dentro do prédio da escola. Teve um momento que eu estava no corredor, sem meus amigos, e do outro lado estava ela, também sem as amigas. Ficamos nos olhando por vários minutos e aqueles cinco metros de distância pareciam quilômetros. Bastava eu atravessar o corredor e falar com ela. Apenas isso e eu não consegui. 

Acabou o ano e eu lembro de ter sofrido muito, porque sabia que tinha perdido a chance, já que eu mudaria de escola e ela não. Minha prima, que estudava na mesma escola e era do mesmo ano da menina, já sabia da minha paixão, mas nunca pedi ajuda a ela. Porque eu não sei. Bastava eu pedir e minha prima falaria com ela, ou nos apresentaria.

Como a cidade é pequena, a vi outras poucas vezes, mas já tinha passado minha chance. Anos depois,  eu mudei de cidade e minha prima contou que a menina tinha engravidado. Lembro de ter ficado triste na época, mas eu já estava em outra. 

Contei essa história longa porque eu sinto que minha vida teria sido muito diferente se eu tivesse tentado algo com a menina da escola. Tive alguns relacionamentos depois, mas nada que fosse algo fácil. Sempre eram histórias longas, que eu demorava muito tempo para tomar a iniciativa. Apenas uma vez foi diferente: fiquei com uma moça desconhecida num ônibus durante uma viagem.

Vira a mexe eu relembro dessa história da escola, me lamentando por não ter atravessado o corredor naquele dia chuvoso e me apresentado à menina que eu gostava. Acho que eu teria sido uma pessoa diferente se tivesse tido essa experiência naquela época. Outros casos semelhantes aconteceram comigo, em vários momentos da minha vida. Uma vez, numa balada em Goiânia, uma mulher claramente deu o sinal verde para eu me aproximar e eu não consegui ir até ela. Nesse caso, eu já não era mais um menino de 14 anos, mas um cara de 38.

Não acho que a quantidade seja realmente algo relevante. Mas me dói tanto não ter vivido todas essas experiências que eu tive realmente a oportunidade. Seja para um namorico de adolescente, uma ficada de balada ou uma noite de sexo. O medo do fora e da decepção me tiraram a chance de ter vivido histórias bem legais.

Tenho tido a sensação de que minha vida acabou, de que não terei mais chance de ter essas experiências. Em outros momentos, penso em fazer diferente quando essa pandemia acabar e viver a vida, com todos seus ônus e bônus. 

 Será que eu atravessarei o corredor dessa vez?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Copo meio cheio ou meio vazio?

 Às vezes faço as minhas reflexões e penso: "isso daria um bom post", mas aí deixo para escrever depois e nunca escrevo. Esqueço que o blogger tem aquela função de agendar publicação e perco oportunidades boas de colocar no papel certas coisas que penso. Então, essa postagem não é uma daquelas que venho chorar minhas dores em um momento de ansiedade. Entretanto, também não será uma postagem alegre, ou até pode ser, dependendo de como se vê o copo.

No ano passado, num daqueles momentos da pandemia que a carência bate mais forte, reinstalei o Tinder. Acho que nunca fiquei com mulher que conheci no aplicativo. Mas deixo para colocar minhas teorias outro dia, se eu lembrar de escrever.

Não sou daqueles que conseguem muitos matches, mas às vezes aparecem alguns interessantes. E aí conheci uma mulher bem legal, muito mais nova do que eu, mas bastante madura. Super inteligente, engraçada e atraente fisicamente. À primeira vista, talvez eu tivesse passado o perfil dela para esquerda, mas, como eu cheguei a assinar o pacote do app por um mês, consegui ver quem tinha me curtido. Então a encontrei, aluna de mestrado no mesmo local onde faço meu doutorado. 

Se eu tivesse esbarrado com o perfil dela naqueles pontos que vc está apenas passando as fotos, talvez não a tivesse curtido. Mas quando vi que ela me curtiu e li o que ela escreveu na bio dela, pensei: "por que não conhecer?".

Isso foi em abril/maio do ano passado e, embora não tivéssemos nos encontrado pessoalmente, tive bons momentos com ela. Gosto de pessoas que me fazem sentir desafiado intelectualmente e ela é uma dessas pessoas, que me mostram que não sou tão inteligente quanto minha arrogância me faz supor. Enfim, tive com ela muitas afinidades.

Mas aí, e isso sempre acontece, quando sinto que a pessoa está ficando muito interessada em mim e eu não estou na mesma sintonia, começo a desanimar da pessoa. Embora eu estivesse atraído fisicamente por ela e era uma chance certa de "sair da seca", um lado meu fica martelando que não vale a pena  iludir uma pessoa por muitos meses apenas para ter um sexo bom. Talvez, se ela não estivesse tão interessada na minha pessoa e sim em diversão, eu não tivesse desanimado tão rápido.

Infelizmente não era o caso, ela é uma pessoa que se apega fácil e, convenhamos, eu sou uma pessoa legal, o que parece estar em falta no mundo masculino. Então acho que juntou o fato de possivelmente estar iludindo alguém com o meu receio de relacionamentos sérios. Se fosse analisar friamente, ela seria uma pessoa perfeita para estar junto: muito inteligente, engraçada, carinhosa e atraente fisicamente. Mas, infelizmente, não é assim que as coisas funcionam.

Então eu comecei a fazer o que faço sempre: fiquei cada vez menos disponível para conversas no whatsapp, dando as clássicas desculpas de que estou trabalhando muito. Sim, eu sempre estou trabalhando muito, mas encontro tempo para romances quando quero.

Como pessoa inteligente que ela é, logo percebeu de que eu não estava mais tão afim assim. Então passou a se comportar do mesmo jeito, respondendo pouco minhas mensagens e cada vez com menos contato. Como a gente se segue no Instagram, não foi um sumiço total, mas apenas aquelas interações protocolares de rede social.

No final do ano, ficou mais claro porque ela demorava a responder uma mensagem mais simpática minha: ela estava namorando. Isso sempre acontece, as pessoas cansam de esperar por mim e seguem suas vidas. Não as culpo.

Fui ver o perfil do cara na época, e fiz isso hoje de novo, e meu despeito logo apontou: "ah, sou mais atraente fisicamente do que ele". Mas, passada essa pobreza de pensamento trazida pela vaidade, logo vem a constatação: atraente ou não, é ele que está com ela. 

Ao ler as postagens dele fica fácil de entender porque ela está com ele. O cara é muito interessante mesmo. Ele parece, digamos, do mesmo nível intelectual dela e alguém com a vida mais "arrumada". Alguém que considero muito melhor do que eu.

Então, e aí está o copo meio cheio da questão, vem o pensamento de que no fim foi melhor assim. O cara é muito mais adequado para ela, pois penso que logo ela perceberia o quão fútil eu sou. Além disso, eu nunca teria me arriscado na pandemia a estar com ela, o que para meu "rival" não foi problema. Eles parecem bem compatíveis e eu não me sinto compatível com ninguém. Sempre acho que não presto para ninguém e, passados aqueles 30 minutos de empolgação comigo, as mulheres vão ver que não tenho mais nada a oferecer.

Continuo só, sem ter alguém tem muito tempo, e ela tá com um cara super bacana. Melhor assim.




terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Luz no fim do túnel?

 Estava conversando com duas pessoas diferentes esses dias e para as duas eu disse a mesma coisa sobre o fim dessa pandemia: já não é mais questão de "se" mas "quando". De fato, mesmo com os atrasos de vacinação, graças aos governantes incompetentes, a coisa está andando e já conto os dias para ver familiares mais velhos sendo vacinados. Para mim, que não sou grupo de risco e to na faixa dos 40, acredito que só no segundo semestre.

Nesses tempos que a questão emocional anda tão mal, tenho me "alimentado" de notícias boas que possam me trazer alguma esperança. Olho diariamente os números de vacinação nos países e fico animado quando vejo que em alguns a coisa começar a ter controle. No Brasil, a questão da disponibilidade de vacinas começa a andar e entendo que no meio do ano estaremos com boas perspectivas.

Procuro me cercar dessas notícias porque tudo tem sido muito ruim para mim. Qualquer dor já vira um caos emocional, não consigo fazer mais nada durante dias e tudo fica pior ainda.

Até o final de novembro eu estava "bem", caminhando quase diariamente, faço exercícios em casa e andando com as minhas atividades. De lá para cá, assim como a pandemia no Brasil, a coisa degringolou. Toda semana sofro com algum sintoma físico, não faço exercícios e to dormindo muito mal. O único ponto no meu corpo que parece indo bem é o meu peso: de outubro para cá perdi cerca de 11 quilos, acho que uns 4 no último mês. Não estou deixando de comer, apenas comendo menos e tentando não comer porcaria. 

Mas todo dia fico com um sentimento tão ruim, uma angústia às vezes tão grande. Aí trabalho pouco, não faço exercícios, durmo mal e quem paga é meu corpo. Aliás, nesse ponto, acho que uma coisa alimenta a outra: sinto qualquer mal estar no corpo e isso vira um gatilho para meu estado emocional desabar. 

Até quando isso?

Mesmo que a vacina demore a chegar para mim, acessar essas notícias de vacinação representa, de certa forma, a crença de que uma hora vou ver a luz no fim do túnel para mim também.



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Dois anos sem alprazolam

 Meses atrás, quando imaginava com esse dia, achei que escreveria um texto super animado, de esperança, de que dá para vencer a ansiedade sem recorrer a esses remédios. Embora a meta tenha sido alcançada, não há o que comemorar. Sim, hoje tudo o que eu queria era esse remédio para me acalmar.

Desde o início de dezembro eu venho piorando cada dia mais. Começou com uma diarreia e passei dias achando que estava com covid. Depois seguiu-se uma prisão de ventre e dores constantes na região abdominal. 

Ao mesmo tempo, começou a me bater uma tristeza muito grande e raiva de tudo. Me sentindo mal comigo mesmo, com o mundo, com essa situação em que vivemos. Triste por não poder estar com a minha família e muitas vezes me sentindo sem esperança, ao perceber que ainda vou demorar muito a estar com eles. Por várias vezes fiquei chorando de madrugada, com muita saudade da minha família.

Minha produtividade,que andava tão bem nos últimos meses do ano, também piorou. Estou demorando muito para terminar as tarefas e agora tudo está atrasado de novo. Todo dia durmo e acordo estressado com os prazos que não estou cumprindo e como estou colocando tudo a perder de novo.

Minha rotina de exercícios acabou. Desde a diarreia em dezembro, em que achei que poderia estar com covid, e com o aumento dos casos no fim do ano, estou com medo de sair. Eu, que caminhava quase todo dia em novembro, só fiz uma caminhada nesses últimos dois meses. Algumas saídas esporádicas para mercado, mas sempre com muita tensão e medo de ser infectado. Até para pegar sol no quintal (moram outras pessoas no terreno) não tenho saído.

Tenho dormido muito mal, muitas vezes dormindo pouco ou indo dormir de manhã e acordando tarde. A hora de dormir na maior parte das vezes tem sido bem difícil.

Com isso tudo, não tem dia que não sinto alguma dor no corpo. Dores abdominais, geralmente do lado inferior direito são constantes. Dores nos braços, na cabeça, também aparecem sempre.Até tento pegar um peso, mas aí quando alguma parte do corpo dói demais no outro dia, meus planos de rotina de malhação vão embora.

Semana passada fiz uns exercícios de peito e, dois dias depois, sentia uma dor muito chata no peito esquerdo. Passei uns 3 dias atento a qualquer sinal do corpo e pesquisando novamente os sintomas de quem tem infarto. Isso passou tem uns dias.

Ontem senti meu coração acelerado e hoje senti meus braços queimando, e um ponto especial do meu ombro doía muito quando eu apertava. Minha cabeça fica entre possíveis sinais de um problema grave e tentativas de convencer a mim mesmo que isso são reflexos de má postura de quem tem usado muito o notebook na cama ou sinais físicos de um desgaste emocional muito grande.

Além de todos esses sinais, ando muito irritado. Estou me aborrecendo facilmente com todas as pessoas  com quem desenvolvo alguma atividade. Tudo é motivo para eu ficar bravo e acho que as pessoas já perceberam que não ando nada simpático e dócil como sempre sou. Os apartes que tenho feito nas reuniões têm sido sempre de maneira a reclamar de algo ou alguém. E quando eu imagino que as pessoas estão percebendo esse "novo" eu, fico me sentindo culpado depois e querendo ser uma pessoa melhor.

Antigamente, eu fica recorrendo ao vick para sentir aquele cheiro relaxante. Por conta das dores musculares, comprei aquelas pomadas que ultimamente só tenho usado para sentir o cheiro da cânfora.

Sintomas físicos e emocionais que me fazem lembrar dos piores dias. Eu, que achei que estava livre disso tudo, parece que "acordei" para o eu ansioso, que não consegue ter mais controle de nada. Juro que se tivesse alprazolam aqui eu teria tomado. Pensei nele mais de uma vez nessa semana.

Amanhã tenho consulta em que pedirei exames de rotina, já que passei dos 40 e tem um ano e meio que não faço. É bem capaz de eu pedir a médica receita de um tarja preta. Não queria me sentir derrotado, de perder esses dois anos de conquista, mas tá cada dia mais difícil.

E o que me assusta mais é que não vejo perspectiva de melhora, porque o cenário externo tende a ficar igual ou pior nos próximos meses A diferença é que já são 12 meses sem ver família, quase um ano sem abraçar ou apertar a mão de alguém e quase um ano sem sair nem do meu bairro. 

Queria vir aqui nos dois anos sem alprazolam e contar histórias de esperança, mas to me sentindo tão mal...







sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

A vida que eu sonhava

 Num atendimento nessa semana me perguntaram se o que eu vivo hoje é a vida que eu sonhava quando era mais novo. Nem de longe. 

Mas não é a falta de dinheiro que me faz lamentar a vida que levo hoje. 

Só queria ser uma pessoa normal, sem as loucuras que me cabeça cria e que não me deixam ter um dia de paz. Como deve ser bom estar em paz, vivendo exatamente o dia presente, rir sem ter vergonha dos próprios dentes, comer sem ter medo de passar mal ou engordar, não passar os dias sem ter medo da morte..

Como deve ser bom aceitar a si mesmo e não ter vergonha de se mostrar ao mundo.

Que esse ano maldito passe logo e eu possa estar com a minha família. Que Deus me dê a chance de estar com eles novamente.

Essa é a vida que eu sonho agora, nada mais.



sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Quase um ano sem ver a família

No início de fevereiro completarei dois marcos importantes, um motivo de comemoração enquanto outro motivo de muita tristeza. No próximo dia 11 serão dois anos sem recorrer ao alprazolam ou rivotril. Desde que comecei a ter crises de ansiedade, há 11 anos atrás, nunca fiquei tanto tempo sem recorrer a esse tipo de remédio. Motivo de comemoração, sem dúvida.

Por outro lado, mais ou menos na mesma data, será um ano que não vejo a minha família. Para estar com eles, teria que me deslocar muitas horas dentro de um ônibus, o que é muito arriscado na pandemia, especialmente porque as pessoas não seguem uma recomendação tão simples, como o uso de máscaras.

Tem as chamadas em vídeo, claro. Mas nada substitui o abraço, o beijo. E quando vejo que minha vez de ser vacinado vai demorar muito, sei lá se antes de agosto, me bate um desespero tão grande. Eu alimentava a esperança que começaríamos a ter um fluxo bom de vacinação nesse início de ano, mas é algo que vai demorar muito, graças aqueles que colocam seus interesses acima do coletivo. 

Saber que vou demorar muito mais a vê-los me deixa tão mal, mas tão mal, que tem horas que me questiono se não valeria a pena arriscar. Cada hora que penso que pode acontecer algo comigo ou com eles, eu fico desesperado e penso em ir logo, mesmo com todo o risco que isso significa. E aí eu me acho idiota, porque por um dia lá no início eu poderia ter ido mas fiquei com medo de ser contaminado. Aí as viagens entre nossos estados foram suspensas e quando voltou, em maio, o risco era muito maior.

Eu to tão mal, mas tão mal, que acho que só estando com a minha família eu teria condições de suportar essa fase. Tento manter um alto astral quando estou nos compromissos profissionais mas, fora deles, quando me encontro apenas comigo mesmo, só o que tem é tristeza e angústia. Aí choro de saudade, meu stress se manifesta em dores por todo o corpo e tudo fica pior. 

Uma coisa alimenta a outra, pois a dor ativa minha atenção plena para aquela sensação e voltam os pensamentos de que posso estar muito doente, que posso morrer e nunca mais estarei com eles. Esses pensamentos me dominam, não consigo fazer mais nada do que tenho para fazer e tudo fica atrasado. Os cuidados com a casa, comigo, com minhas tarefas profissionais e acadêmicas...

E fico nesse ciclo por dias, cada vez pior. Tristeza, mau humor, irritação com qualquer notícia que leio e meus dias ficam uma merda, como estão há muitas semanas.

Sabe o que é pior? A falta de perspectiva de melhora. Estou sem esperança. Vou cumprir os dois anos sem tomar o SOS, mas tem horas que só queria dormir e só acordar quando tudo isso passar. Ou pelo menos ter algumas horas de paz comigo mesmo.



domingo, 3 de janeiro de 2021

Gatilhos para ansiedade em tempos de pandemia

 

Já falei em diversas postagens das dificuldades que pessoas hipocondríacas têm nessa pandemia da COVID-19. Embora nem todo ansioso seja hipocondríaco também, não sei se essa associação é tão rara, pois normalmente a ansiedade anda junta de outros transtornos. O fato é que a mistura ansiedade + hipocondria +  pandemia torna os dias de gente como eu um inferno, já que são tantos tipos de gatilhos que é difícil ter um dia de paz. Não vou entrar no mérito técnico do que é gatilho e para isso deixo um link de um vídeo no final, que achei num canal no YouTube bastante interessante. 

Estava refletindo ontem e hoje sobre que tipo de informação ando consumindo nessa pandemia e como isso pode estar relacionado a esses dias mais complicados do que o "normal". Foi notícia esses dias de um perfil no Twitter que anda denunciando festas realizadas durante o final do ano e nesses primeiros dias de 2021. Cada notícia de gente que não tá nem aí, enquanto estou longe da minha família há 11 meses, me deixa muito revoltado e triste. Revoltado porque desse jeito a normalidade vai demorar muito mais aqui do que em outros países. E triste porque fico sem esperança no nosso país, por mais que eu trabalhe todo dia para fazer algo que seja importante para melhorar a vida das pessoas. Sinto que eu e muitos outros estamos enxugando gelo e talvez fosse melhor apertar o foda-se.

Essas reflexões e ter contato com tanta demonstração de irresponsabilidade me deixou muito mal ontem. Não cheguei a ter uma crise de ansiedade, mas bateu um desânimo tão grande que não queria fazer mais nada e só dormir, para ver se acordaria num contexto melhor ou se pelo menos teria paz nos sonhos.

Um parênteses aqui: para separar que tipo de conteúdo leio, eu tenho três contas no Twitter.  Na minha "oficial" eu sigo e posto coisas relativas à minha área de atuação atual. Em outra eu apenas assino perfis de notícias, já que uso essa conta como um jornal mesmo. E na terceira eu sigo esse perfil de denúncia de aglomerações que comentei e onde interajo um pouco mais falando aquilo que dá na telha sem me preocupar em parecer "legal" ou educado. Não vou me estender aqui sobre essas contas, porque acho que dá outra postagem no blog, mas sei que parece loucura.

Na minha conta principal (a que eu assino como eu mesmo) acabo tendo bastante acesso a informações mais técnicas sobre a pandemia, assim como relatos de profissionais que estão na linha de frente. Embora seja um conteúdo um pouco diferente do perfil das #covidfest, não deixo de me sentir mal às vezes. Porque sempre aparecem relatos bem tristes mesmo, da situação das unidades de saúde e algumas vezes de pacientes. Nem sempre são relatos de pessoas que eu sigo, mas basta alguém que sigo curtir ou compartilhar e a postagem aparece na minha timeline.

Algumas dessas postagens também despertam em mim sentimentos como aqueles que falei antes, mas também me levam a imaginar o que aconteceria comigo se me infectasse. Aliás, a cada vez que alguma sensação física dispara o meu lado hipocondríaco, o lado ansioso começa a ficar nervoso e daí vem os sintomas típicos de alguém ansioso. O mesmo se dá quando leio respostas de pessoas sobre alguma postagem dizendo que pegaram a doença mesmo tomando cuidados. O mesmo acontece às vezes quando leio jornal.

E o que devo fazer? Parar de me informar? Juro que pensei em desinstalar o app do Twitter do celular e dar um jeito de bloquear meu próprio acesso ao Twitter no meu computador. Talvez eu devesse não procurar saber o que acontece no mundo lá fora e focar na minha lista interminável de atividades. Noto que às vezes eu gasto tempo excessivo lendo postagens sobre a pandemia além de notícias de jornal sobre o assunto, deixando de lado obrigações que eu tenho que fazer. O duro de não ter chefe e estar com horário normal de trabalho é que acabo relaxando e perdendo tempo com outras coisas.

Tenho acessado menos o worldometers.info, site que contém dados dos casos de covid no mundo. Eu acessava mais de uma vez por dia e tinha mais ou menos de cabeça o estado da pandemia nos países com mais casos (sou fanático por dados). Mas aí vem o pensamento: "o que vai mudar na minha vida em saber que tal país está com crescimento dos dados?". De fato, embora o que eu faço tenha alguma relação com esses dados, não é uma relação direta e nas minhas atividades não vai influenciar em nada.

Talvez a mesma lógica pudesse ser aplicada a outros conteúdos. Tem horas que penso em apagar todas as minhas redes sociais, já que claramente tenho dificuldades de lidar com essas informações negativas. Mas será que é a melhor forma? Às vezes acho que talvez eu estivesse mais saudável se morasse no campo, com pouco acesso a TV e Internet. Será que conseguiria num mundo tão conectado? Não sei.

Esse final de ano me mostrou que talvez seja melhor saber o mínimo possível do que acontece no mundo e focar naquilo que preciso. Nem falo dos lixos que têm na Internet, mas de notícias mesmo. O mundo anda tão tóxico que é natural que as notícias não sejam as mais suaves para digerir. E isso ativa diversos gatilhos em mim me deixando sempre preocupado. Será a ignorância uma bênção?


  • Vídeo sobre gatilhos