Nem sempre minhas postagens são em momentos de ansiedade ou quando preciso botar algo pra fora. Às vezes são só divagações mesmo, embora nem sempre venha aqui colocar no "papel" quando estou nas reflexões sobre a minha vida.
Estava assistindo um episódio de This is Us em que um dos personagens fica imaginando cenários da sua vida se tivesse tomando uma certa decisão em relação ao seu pai. Lembrei do que escrevi sobre desejar às vezes que isso tudo fosse um sonho ruim e pudesse acordar para fazer a escolha certa, tal como acontece em alguns filmes.
Tem tantas coisas que gostaria de poder voltar atrás e fazer diferente. Muitas delas têm a ver com relacionamentos e hoje lembrei de uma ex. Na verdade, tenho lembrado dela às vezes e tive a curiosidade de pesquisar sobre ela nas redes para saber como ela está.
Ela foi minha primeira namorada, então já faz um certo tempo. Foi a primeira com quem tive relações sexuais e chegamos a morar juntos. Acho que no total foram quase 4 anos juntos e estávamos ainda na faculdade. Eu também fui o primeiro dela e acho que muito dos sentimentos de culpa que sinto tem a ver com ela. Por outro lado, tem muito a ver com o mal que eu fiz a mim mesmo pelo terrível sentimento do apego.
A falta de amor próprio e baixa confiança em mim mesmo vem de muito longe. E isso tornou nosso relacionamento muito ruim em vários momentos. Eu tinha muito ciúme dela e sempre achava que ela iria se interessar por outra pessoa ou que alguém iria dar em cima dela e ela iria preferir essa pessoa. Morria de medo de ser traído. Estávamos em um curso em que ela era uma das poucas mulheres e isso aumentava ainda mais a minha insegurança.
Lembro que toda vez que ela saía sem mim, quando voltava pra cidade dela, eu ficava sofrendo muito imaginando que alguém iria dar em cima dela e ela não resistiria. Além de ter dificuldade em confiar nela, achava que qualquer pessoa seria mais interessante do que eu. Mas não a culpo, o problema da falta de confiança era só meu.
Nunca fui de fazer escândalo por causa de ciúmes, o meu jeito era ficar com cara de emburrado até ela perguntar o que eu tinha. E aí vinham as discussões. Era tão insano que, quando ela saía na cidade dela, mesmo em compromissos familiares, eu pedia para ela me ligar quando chegasse. Chegou num ponto que fui procurar terapia no serviço da faculdade. Nesse ponto sou grato, já que conheci a psico que me acompanhou por uns anos e fez muito por mim.
Além das discussões que aconteciam por causa do meu ciúme, ela me dava vários sinais que aquele relacionamento não teria vida longa. E eu não estava satisfeito com o que tínhamos, mas nunca tive coragem de terminar. Achava que era melhor estar assim do que voltar para a vida de ir para baladas e não conseguir me aproximar de ninguém, vendo meus amigos ficarem com alguém e eu passando em branco.
Na época do primeiro término, ela me escreveu uma carta, mesmo a gente morando junto. Felizmente lembro pouco dessa carta, mas ela falava que queria experimentar outras coisas, que era muito nova para estar presa. A parte que me mais doeu, e nunca esqueci disso, foi quando ela se referiu a características físicas minhas que, mesmo eu melhorasse, ainda assim ela não se sentiria atraída por mim. Em resumo: me chamou de feio de maneira delicada.
Aí ela terminou comigo e separamos de casa. Lembro que sofri muito e até chegava a acessar o email dela para saber o que ela estava fazendo. Quando li que ela ficou com um cara eu fiquei muito mal. Mas isso me ensinou que acessar dados dos outros é uma coisa muito errada. Depois disso, nunca mais quis saber senha de ninguém e nunca deixei que acessassem as minhas coisas.
Passamos uns dois meses separados e acabamos voltando. Acho que tínhamos nos acostumado um com o outro e carência deve ter batido para ela. Como eu era a opção disponível e ainda gostava dela, não me importei com tudo o que passamos no nosso término. Olhando pra trás, com tudo o que ela falou pra mim naquela término, eu nunca deveria ter voltado. Não por rancor, mas por saber que, apesar das palavras cruéis, ela foi muito sincera naquela carta. Logo, eu não tinha ficado bonito dois meses depois e ela continuava sem ter todas as experiências que gostaria de ter tido como solteira.
Quando voltamos, as coisas não mudaram muito. Não morar junto era bom, mas as crises de ciúme persistiam e ela reclamava às vezes que a vida tava passando sem poder aproveitar as coisas. Eu enxergava que aquilo ali não ia dar certo mesmo, mas continuava sem coragem de terminar. Penso em como teria aproveitado melhor a vida universitária se não estivesse tanto tempo preso num relacionamento que eu mesmo sabia que não tinha futuro.
Mas não tinha coragem de dar o passo e coube a ela mais uma vez fazer o favor de terminar tudo. Eu sofri nesse término também, mas me sentia mais aliviado e não demorei muito para seguir em frente. Depois de um mês, eu já estava ficando com outras pessoas. Aliás, foi meu único momento da vida que fui o "pegador". Tudo bem que isso é um final de semana fraco para a maior parte dos caras, mas três ficadas em 2 meses era um super recorde pra mim. Isso foi uns meses antes de "conhecer" aquela que eu considero a mulher que mais amei na vida.
Eu sou muito grato com ela nesse nosso "casamento". Ela foi uma grande amiga, me ajudou em momentos muito difíceis da minha vida e sua família me acolheu de uma forma muito especial. No fim, acho que foi isso: grandes amigos que transavam às vezes.
Mas me arrependo de ter enchido tanto a paciência dela com meu ciúme. Queria ser uma pessoa mais confiante nos outros e em mim, principalmente. Me arrependo de decepcionar os pais dela quando descobriram que transamos e que estávamos morando juntos. Se soubesse que o que sei hoje, nunca teria topado morar junto sem estar num relacionamento firme. E também por gastar o que não podia para manter uma vida a dois.
Se pudesse voltar atrás, também teria terminado em todas às vezes que eu senti que aquilo não daria certo, que eu era apenas uma opção cômoda. Lamento ter me fechado no relacionamento com ela e não ter curtido meus amigos de faculdade. Ela nunca me impediu disso, eu é que não queria desgrudar dela por causa do meu ciúme.
Quando leio sobre relacionamentos tóxicos, penso no quanto mal eu fiz para ela. Sei também que fui maltratado muitas vezes, mas só posso me arrepender dos meus atos. Nunca cometi agressão nenhuma, nem verbal. Mas tenho certeza que minha cara emburrada de ciúme tirava ela do sério e minha necessidade de ter notícias dela a todo momento a sufocavam muito.
Se eu pudesse voltar atrás, tenho certeza que nosso relacionamento não teria continuado. Só que nós dois teríamos anos mais felizes e eu teria histórias boas para contar dos meus anos de faculdade.
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